HOMENAGEM

Val Kilmer nos deu a melhor cena tiroteio do faroeste moderno

O confronto entre Doc Holliday, de Kilmer, e Johnny Ringo, de Michael Biehn, em Tombstone - A Justiça Está Chegando capturou emoção nervosa de duelo mortal

Joseph Hudak

Publicado em 03/04/2025, às 11h45
Val Kilmer como Doc Holliday em Tombstone - A Justiça Está Chegando - Foto: Divulgação
Val Kilmer como Doc Holliday em Tombstone - A Justiça Está Chegando - Foto: Divulgação

A morte de Val Kilmer na terça-feira, aos 65 anos, devido a uma pneumonia, atingiu especialmente os fãs de filmes de faroeste. Em Tombstone - A Justiça Está Chegando (1993), Kilmer entregou uma das atuações mais marcantes da história do gênero como o dentista e jogador tuberculoso John Henry “Doc” Holliday. Atormentado por crises de tosse, alcoolismo e uma boa dose de autodesprezo, a interpretação de Kilmer enfatizou a fragilidade humana de uma lenda do Velho Oeste, em vez da bravata masculina. O que não significa que o Holliday de Kilmer — tão rápido com seu Colt .45 quanto com a língua — não fosse temido.

Kilmer explorou todas essas características na cena culminante do filme: um duelo íntimo, de homem para homem, contra o pistoleiro Johnny Ringo (interpretado de forma diabólica por Michael Biehn), que é, sem dúvida, a melhor batalha de tiros da era moderna dos faroestes — mesmo que apenas dois disparos sejam feitos.

Supostamente acamado em um rancho, debilitado pela tuberculose, Holliday surge das sombras do árido deserto do Arizona para surpreender o veloz Ringo, que esperava um confronto fácil contra Wyatt Earp, interpretado por Kurt Russell. “Eu não achei que você tivesse coragem para isso”, Ringo ironiza, presumindo que a silhueta à sua frente fosse de Earp. “I’m your huckleberry” (“Sou o seu parceiro”), responde Kilmer no papel de Holliday, antes de arrastar as palavras e acrescentar: “Ora, Johnny Ringo, parece que alguém acabou de passar sobre o seu túmulo”, adicionando instantaneamente duas frases icônicas ao cânone do cinema.

Enquanto Ringo insiste que o duelo é entre ele e Earp, Holliday o interrompe, relembrando um conflito anterior no filme. “Começamos um jogo que nunca terminamos”, diz Kilmer, soltando uma tosse vulnerável como distração. “Jogar para valer.”

E então o duelo começa. Os dois homens circulam um ao outro, avaliando cada movimento, com as mãos tocando seus revólveres de cabo de madrepérola. “Diga quando”, provoca Holliday calmamente. Os olhos se movem rapidamente, as sobrancelhas se contraem, e Holliday solta um leve sorriso antes de sacar sua arma e disparar um tiro certeiro na testa de Ringo. “Você não é nenhuma florzinha!”, ele provoca, enquanto Ringo cambaleia para frente como um zumbi e dispara sua arma inutilmente contra o chão.

Com Ringo morto, Earp chega correndo — tarde demais para o duelo que teria selado seu destino, se não fosse pela lealdade de Holliday. “Ah, eu não estava tão doente quanto fiz parecer”, ele diz a Earp.

Trinta e dois anos depois, a cena continua sendo um clássico sutil, prova de que tiroteios não precisam ser os exagerados e barulhentos confrontos que dominam tantos faroestes comerciais — Tombstone incluído. A grande cena do filme, o “Tiroteio no O.K. Corral”, dura barulhentos dois minutos. O confronto real? Pouco mais de 30 segundos.

+++LEIA MAIS: A carta que Cher mandou para Val Kilmer antes de sua morte (e como ele respondeu)


*Texto publicado originalmente na Rolling Stone EUA em 2 de abril de 2025