ENTREVISTA

'Violência tem que ser rechaçada', diz diretor sobre brutalidade masculina em Oeste Outra Vez

Longa de Erico Rassi, que venceu o prêmio de Melhor Filme no Festival de Gramado, em 2024, chega aos cinemas a partir desta quinta-feira (27)

Camila Gomes (@camilagms)

Publicado em 27/03/2025, às 16h45 - Atualizado às 17h00
'Violência tem que ser rechaçada', diz diretor sobre brutalidade masculina retratada em Oeste Outra Vez - Divulgação/O2 Play
'Violência tem que ser rechaçada', diz diretor sobre brutalidade masculina retratada em Oeste Outra Vez - Divulgação/O2 Play

Faroeste brasileiro, Oeste Outra Vez, do diretor Erico Rassi (Comeback), chega aos cinemas a partir desta quinta-feira, dia 27 de março, discutindo elementos essenciais do gênero: a violência e a masculinidade.

Estrelado por Ângelo Antônio (Justiça) e Babu Santana (O Jogo que Mudou a História), o longa aborda temas como a solidão masculina e a incapacidade dos homens de expressar suas emoções e sensibilidades ao retratar homens brutos, que não conseguem lidar com suas fragilidades e são constantemente abandonados pelas mulheres que amam. Tristes e amargurados, eles acabam se voltando violentamente uns contra os outros.

Diferentemente de clássicos como Os Brutos Também Amam (1953) e Rastros de Ódio (1956), que retratam a tensão sexual entre os protagonistas com aptidão para violência e seus interesses românticos, o longa brasileiro se propõe a evidenciar o motivo desses personagens não merecerem as mulheres que tanto desejam.

"Oeste Outra Vez radicaliza isso", afirmou Rassi em entrevista à Rolling Stone Brasil. "Violência tem que ser rechaçada. As mulheres preferem não fazer parte daquele lugar".

Esses personagens de Oeste Outra Vez não conseguem sair desse ciclo, de violência e de machismo. Eles não têm instrumentos para evoluir, parece. Talvez o público reconheça algumas pessoas que conhece no filme. O Brasil ainda é um país machista", declarou.

A evolução da representação masculina nos faroestes

Rassi, que também assina o roteiro, fez uma imersão em algumas cidades do interior de Goiás e entrevistou diferentes pessoas para criar esses personagens complexos que, ao mesmo tempo em que são violentos, não conseguem lidar com as suas fragilidades.

Oeste Outra Vez (Divulgação/O2 Filmes)
'Violência tem que ser rechaçada', diz diretor sobre brutalidade masculina retratada em Oeste Outra Vez (Foto: Divulgação/O2 Play)

A partir da proposta inicial de criar um faroeste sobre as consequências dessa masculinidade tóxica, o cineasta também mergulhou na literatura goiana e definiu suas referências como "uma salada". "Li Eugênio Carvalho Ramos, Jorge Amado e João Baptista", contou.

O diretor também realizou uma pesquisa iconográfica no IMS e teve acesso a um grande arquivo de fotografia do sertão. Muitas cenas do longa foram criadas a partir de suas visitas às locações. "A cena do tiroteio no crepúsculo, quando o dia está escurecendo, foi construída em função daquela locação, que tem aqueles platôs em diferentes alturas", revelou.

A trilha sonora integra a narrativa

Oeste Outra Vez tem uma cena de briga entre os dois protagonistas, Totó (Antônio) e Durval (Santana), conduzida pela voz de Nelson Ned em "Eu Também Sou Sentimental" e outras canções de brega, como "Boate Azul" e "Tudo Passará". "São músicas que estão dentro desse universo romântico".

Segundo o diretor, as faixas originais, compostas por Guilherme Garbato (A Vida Invisível), evitam ressaltar o lado violento desses homens. "Precisava trazer um pouco do lado melancólico e solitário deles para criar essa diferença desses dois aspectos que eles carregam", explicou.

Premiado no Festival de Gramado

Gravado em São João da Aliança e na Chapada dos Veadeiros, em 2019, o longa chega aos cinemas em cenário bem diferente do audiovisual. Rassi acredita que a repercussão de Ainda Estou Aqui (2024), de Walter Salles, ajudará a atrair a atenção do público para outras histórias. "Estamos em um momento muito favorável”, analisou. “Nosso cinema é muito rico, muito diverso e fazemos muito bem. Só faltava um empurrãozinho”.

Oeste Outra Vez já começou sua própria trajetória nas premiações. Em agosto passado, a produção recebeu os prêmios de Melhor Filme, Melhor Fotografia e Melhor Ator Coadjuvante para Rodger Rogério (Bacurau) na 52ª edição do Festival de Cinema de Gramado, um dos mais importantes do cinema brasileiro.

LEIA TAMBÉM: Ângelo Antônio elogia Oeste Outra Vez: 'Um dos melhores filmes que já fiz'

Qual foi o melhor filme de 2025 até agora? Vote no seu favorito!

  • Baby
  • Babygirl
  • MMA - Meu Melhor Amigo
  • Anora
  • Conclave
  • Emilia Pérez
  • Acompanhante Perfeita
  • Capitão América: Admirável Mundo Novo
  • Flow
  • O Brutalista
  • Um Completo Desconhecido
  • Mickey 17
  • Better Man - A História de Robbie Williams
  • Vitória
  • Pequenas Coisas Como Estas
  • O Melhor Amigo
  • Maré Alta
  • Branca de Neve
  • Novocaine: À Prova de Dor
  • Oeste Outra Vez