CRÍTICA

‘Wicked: Parte 2’: A bruxa está de volta!

Ariana Grande e Cynthia Erivo retornam para concluir o que começaram neste final não tão “Oz-sacional” da adaptação do musical da Broadway

David Fear

Wicked: Parte 2
A luta do bem contra o mal se intensifica no trailer final de 'Wicked 2' (Foto: Divulgação/Universal Pictures)

Então, onde estávamos? Depois de, sem querer, ajudar as autoridades a avançarem seu programa de espionagem com macacos voadores, Elphaba (Cynthia Erivo) — poderosa, incompreendida, e que sabe como arrasar com um chapéu pontudo — roubou o livro de feitiços conhecido como Grimmerie e declarou guerra ao vigarista conhecido como o Mágico. Agora ela é uma inimiga do Estado. Sua amiga Glinda (Ariana Grande) — cintilante, efervescente, popular — se despede antes de ajudá-la a fugir. O príncipe Fiyero (Jonathan Bailey) foi visto pela última vez fugindo a cavalo. O governador de Oz sofreu um ataque cardíaco. A gravidade havia sido desafiada com sucesso.

Agora a bruxa está de volta, e Wicked: Parte 2 retoma exatamente de onde a primeira parte da adaptação de 2024 de Jon M. Chu do sucesso da Broadway parou, isto é, no intervalo. Em homenagem ao material original dividido em dois atos, todo multiplex deveria piscar suas luzes enquanto o público entra na sala e se senta. Tendo terminado não apenas em um momento de suspense, mas no ponto musical mais marcante do espetáculo — que comprova que Cynthia Erivo é uma deusa quando se trata de transformar “Defying Gravity” em um verdadeiro hino megatônico —, esta continuação agora tem a tarefa de trazer a segunda metade para a tela.

Talvez “sobrecarregada” seja um verbo melhor aqui, considerando que os ápices de Wicked acontecem cedo, e esta parte cinematográfica fica principalmente encarregada de amarrar pontas soltas. Restam alguns números decentes. Erivo ainda faz você sentir que o papel é dela. Mas, para o bem ou para o mal, Parte 2 parece, na maior parte do tempo, apenas uma reprise da cacofonia colorida do primeiro filme, só que com o volume um pouco mais baixo. Fãs vão abraçá-lo mesmo assim, claro. Eles são fãs. Aqueles que ficaram apenas moderadamente impressionados com Wicked acharão isso menos divertido que um barril cheio de macacos voadores berrando. No geral? Não dá exatamente para chamar de “Oz-sacional”.

Já se passaram aproximadamente “12 marés viradas” desde que Elphaba partiu, embora isso não tenha impedido essa fugitiva de se tornar uma frente de libertação animal de uma só bruxa e atrapalhar planos de construir uma estrada de tijolos amarelos. A Bruxa Má do Oeste ganha uma entrada de ícone: primeiro como uma silhueta no céu — eis um anjo vingador montado em sua vassoura! — e depois com a câmera avançando atrás dela, enquanto ela se vira para nos encarar de frente. Mérito de Chu por saber apertar cedo e com habilidade os botões da idolatria da anti-heroína. Enquanto isso, na Cidade Esmeralda, um fervor anti-bruxa está sendo atiçado por Madame Morrible (Michelle Yeoh). Nada une mais as pessoas do que um inimigo, como disse o Mágico (Jeff Goldblum). E poucos na Grande Oz são melhores para inflamar a população, alimentar seus medos e raivas, fomentar seu ódio em nome de um tirano, do que Morrible. Dá para imaginar Kristi Noem e Pam Bondi tomando notas.

E quanto a Glinda? Está bem, obrigado por perguntar. A principal bruxa do sul acabou de anunciar seu noivado com Fiyero, o que é uma surpresa e tanto para o noivo em potencial. O governo presenteou-a com um transporte de bolha de última geração. Glinda está se deliciando com toda a pompa ao seu redor, completamente chapada em seu próprio suprimento de fama. Para seu crédito, Grande reduz a comédia física trôpega que marcou seu desempenho no primeiro Wicked — nunca alguém tirou tanto proveito de jogar a cabeça para trás enquanto dava um passo à frente — e entra no ritmo narcisista que faz de Glinda uma vilã do segundo ato até que ela deslize de volta para o lado do bem. Ainda assim, a performance transborda Energia de Grande Aluna de Teatro. Só quando Grande atinge a nota aguda no final de “Thank Goodness/I Couldn’t Be Happier” você se lembra de que esse é um papel que se canta tanto quanto se interpreta — e sua voz compensa muita coisa aqui.

Tanto Grande quanto Erivo têm seus momentos de flexionar musicalmente, com a primeira aproveitando ao máximo “Happier”, e a segunda sustentando a nota final de “No Good Deed” por tanto tempo que daria para você sair para comprar pipoca, com extra de manteiga, e voltar antes que ela terminasse. Erivo e Bailey se saem bem em sua grande canção romântica, “As Long as You’re Mine”; duas músicas novas, “The Girl in the Bubble” e “No Place Like Home”, preenchem algumas lacunas narrativas, mas ainda assim soam como o equivalente a lados B ou faixas bônus. De novo, sem “Popular” ou “Defying Gravity”, há uma certa queda no quesito faixas arrasadoras. O mais próximo disso é o dueto climático “For Good”, que junta bem as protagonistas o suficiente para te fazer desejar que fosse mais longo, mas não tão bem a ponto de você sair do cinema cantarolando em estado de êxtase.

A única música de Wicked: Parte 2 que se destaca mais que as outras talvez seja “Wonderful”, e por razões que só parcialmente têm a ver com a magia diluída que acontece na tela. Agora é um número cantado por três pessoas, e investigadores da internet e fãs obstinados de Wicked notaram que uma mudança de pronome no refrão faz com que o egoísmo do sujeito pareça ainda mais evidente. Mas suas letras sobre um malandro tirando vantagem da credulidade das pessoas — “eu menti para eles?”, pergunta o Mágico de Goldblum. “Apenas verbalmente” — e sobre como os eleitores podem ser enganados perpetuamente porque não querem abandonar suas crenças após terem se comprometido com elas (“fatos e lógica não vão desencorajá-los”), ganham um novo tom agora. Esse aspecto sempre fez parte do musical, claro. Mas há a sensação de um empurrãozinho mais forte nas costelas neste momento. Eventualmente, o homem por trás da cortina, aquele em quem nos disseram para não prestar atenção, é forçado a expiar sua manipulação em massa e deixar a cidade em estado de vergonha. Se ao menos tais coisas não estivessem confinadas ao reino dos musicais de cinema.

Depois que Elphaba presenteia sua irmã Nellarose (Marissa Bode), agora governadora e cúmplice da perseguição federal contra animais e Munchkins, com um par de sapatos encantados — sim, são rubi —, os amigos de Dorothy, a garota do Kansas, e de seu cachorrinho também, não estão longe. Um Boq (Ethan Slater) ressentido se tornará verdadeiramente sem coração, embora valha notar que Oz nunca deu nada ao Homem de Lata que ele já não tivesse. Um espantalho entra em cena, assim como um leão covarde; por que escalar Colman Domingo para dublar o gato medroso residente e quase não lhe dar falas é uma questão que nem o grande e poderoso você-sabe-quem conseguiria responder.

Não é exatamente spoiler (esperamos?) dizer que Wicked: Parte 2 termina como a peça, com um ato de auto-sacrifício e um felizes-para-sempre que rapidamente o desfaz. Fazer qualquer outra coisa seria sacrilégio para os fiéis, além de falso para a amizade que está no centro desse gigante da Broadway. Ainda assim, a sensação de uma obra que, na transição de um meio para outro, já não desafia a gravidade e, em vez disso, despenca de volta ao chão de forma meio brusca, não é fácil de sacudir. As bruxas seguem para cumprir seus destinos, adicionando vários outros antecedentes à história de Dorothy e companhia em sua jornada para ver o Mágico. Então por que esta segunda metade simplesmente parece… fora do lugar?

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