Como o guitarrista dos Beatles enfrentou um ataque brutal, desafiou uma doença terminal e encontrou paz em sua fé nos últimos dias de vida
George Harrison foi o integrante dos Beatles que mais se afastou do glamour da fama. Introvertido por natureza, ele buscou refúgio na espiritualidade, algo que moldou sua vida e sua música após o fim da banda. Harrison deixou um legado imensurável, mas seus últimos anos foram marcados por provações que testaram sua força física e emocional.
Em 30 de dezembro de 1999, Harrison enfrentou um dos momentos mais traumáticos de sua vida. Enquanto dormia com sua esposa, Olivia, em sua mansão Friar Park, um invasor esquizofrênico chamado Michael Abram quebrou uma janela e entrou armado com uma faca. George tentou desarmar a situação entoando cantos Hare Krishna, mas acabou esfaqueado várias vezes no peito.
Durante o julgamento de Abram, reportado pelo The Guardian em 2000, o guitarrista falou sobre o ocorrido:
Eu podia ouvir meu pulmão exalando e tinha sangue na minha boca. Eu acreditava que havia sido fatalmente esfaqueado", contou Harrison no julgamento.
Olivia conseguiu afastar o agressor com um abajur, o que salvou a vida do marido.
Dois anos antes, Harrison havia tratado um câncer na garganta, que ele atribuiu ao tabagismo. No entanto, amigos próximos acreditavam que o trauma do ataque, físico e emocional, desencadeou o retorno agressivo da doença. Em maio de 2001, ele passou por uma cirurgia para remover um tumor no pulmão, mas, meses depois, foi diagnosticado com um câncer no cérebro.
Durante esse período, ele recebeu uma visita de seu ex-companheiro dos Beatles, Ringo Starr. No documentário Living in the Material World, dirigido por Martin Scorsese, o baterista conta sobre o encontro (transcrição via Far Out Magazine):
Nas últimas semanas da vida de George, ele estava morando na Suíça. E eu fui vê-lo. Ele estava muito doente. Ele podia apenas ficar deitado. E enquanto ele estava doente e eu havia ido visitá-lo, eu também ia para Boston pois minha filha tinha um tumor cerebral. Eu disse: ‘preciso ir pra Boston’, e ele fala… Foram as últimas palavras que ouvi ele falar, pra falar a verdade. Ele falou: ‘quer que eu vá junto?’ [risos]. Então, esse é o lado incrível de George.
Em novembro de 2001, ficou claro que o estado de George era infelizmente terminal. Determinados a evitar um ambiente hospitalar, Harrison e sua família se mudaram para uma casa em Los Angeles, alugada por Paul McCartney. Cercado por Olivia, Dhani e amigos espirituais, ele recebeu o músico Ravi Shankar, que tocou sitar para acalmá-lo em seus momentos finais.
George Harrison faleceu em 29 de novembro de 2001, aos 58 anos. Suas cinzas foram levadas por Olivia e Dhani para a Índia, onde foram espalhadas nos rios Ganges e Yamuna, em um ritual tradicional hindu. Em 2002, o Concert for George reuniu amigos como Eric Clapton, Paul McCartney e Ringo Starr para celebrar sua vida e obra, misturando músicas dos Beatles, carreira solo e composições indianas.
Apesar das dificuldades, Harrison manteve sua visão positiva até o fim. "Eu queria que o relógio parasse quando ele morreu", disse Olivia em 2022. "Mas a energia nunca morre; ela apenas muda de forma."