Cantor foi um dos grandes defensores do político até as eleições de 2018, mas passou a criticá-lo já nos primeiros meses de governo
Publicado em 06/12/2024, às 08h00
Nas eleições presidenciais de 2018, Lobão foi uma das vozes mais ativas em apoio ao então candidato Jair Bolsonaro. Porém, assim que o político venceu a disputa e iniciou seu mandato, o autor de “Vida Bandida” e outros sucessos passou a ser crítico à gestão. Por que isso aconteceu? O músico respondeu.
Lobão esteve no podcast Superplá, apresentado por João Gordo, e lá surgiu o assunto do apoio do músico a Bolsonaro. Inicialmente, o artista disse que a principal razão não foi a identificação com os ideais de direita, mas o desejo de combater a esquerda, representada naquela eleição pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e seu candidato da época, Fernando Haddad.
Disse o músico (via Whiplash.Net):
Eu sou um ‘vira-casaca’. Sou ‘traidor’. C#guei um balde. Na minha cabeça, artista brasileiro é obrigado a ser de esquerda. Eu não sou obrigado, sou ambidestro. Não sou porra nenhuma. Fui muito envolvido com o Lula, PT e MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Mas tenho trânsito livre, não vou me botar em caixinha. Naquele momento, nunca fui fã do Bolsonaro, mas queria destruir o PT. Queria destituir. Não estava nem aí se era fascista ou não.”
Sobre a questão dos artistas brasileiros de esquerda, Lobão falou ao podcast Corredor5 o que pensa e deixou claro que o rock, em específico, sempre foi subversivo no Brasil, independente da orientação política do governo. O cantor afirmou:
O rock nunca foi aceito no Brasil, nem pela direita e nem pela esquerda. Dentro do inconsciente coletivo, da mentalidade brasileira, o rock não é pra ser aceito no Brasil. E isso sempre foi assim no Brasil, desde a passeata contra a guitarra elétrica em 1967 até os dias de hoje. Eu era virgem, nunca tinha fumado maconha, mas era cabeludo, tinha 13, 14 anos, passava na rua e recebia revista da polícia porque era maconheiro, marginal, porque estava carregando instrumento."
Jair Bolsonaro assumiu a presidência em janeiro de 2019. Em maio daquele ano, Lobão já o criticava.
Em entrevista da época ao Valor Econômico (via O Dia), o artista reclamou da postura armamentista do chefe do Executivo nacional e sua família. Ainda chegou a “profetizar” uma vitória de Lula na eleição seguinte, o que realmente ocorreu em 2022.
Quando terminar todos os alimentos, vão acabar se comendo, até chegar os últimos dos moicanos, Eduardo e Jair Bolsonaro. Um vai comer o outro. É a ordem natural disso. Porque o traço de caráter deles, no fundo, é o de serem psicopatas, onde a empatia real pelas pessoas não existe."
Em 2021, já em cenário de pandemia, Lobão apoiou manifestações que pediam o impeachment de Bolsonaro. O músico condenou a postura do presidente em relação às medidas de proteção contra a covid-19. À BBC Brasil, disse:
O simples fato de esse cara andar na rua sem máscara, tirando máscara de criança, já é motivo (para impeachment). Ele é o Presidente da República de um país com 500 mil mortos na pandemia, e ele dá esse exemplo todos os dias na televisão. Isso já é criminoso por si só, é genocida por si só.”
Na entrevista com João Gordo, Lobão disse que se afastou do bolsonarismo por conta do apoio à ditadura militar oferecido por uma parcela dos integrantes do movimento. O cantor afirmou que não mudou de lado e não passou a militar na esquerda — sua solução nas últimas eleições tem sido o voto em branco.
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Colaborou: André Luiz Fernandes.
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.