Ancestralidade, protesto e união marcaram a trajetória de superação do grupo vencedor do reality de rap e trap da Budweiser Brasil; à Rolling Stone Brasil, integrantes falam das estratégias e aprendizados da competição e dos planos para o futuro
"Meu bonde significa união, porque somos pessoas de diferentes territórios da cidade com um sonho em comum". Gabriellê parecia saber a receita para vencer o Sobe Junto, reality musical da Budweiser Brasil. União, talento e superação dos desafios virariam marca do grupo vencedor da competição, exibida no último dia 23 de fevereiro no Bud Play, canal de entretenimento da Budweiser no YouTube.
Foi ao lado do produtor musical Fabricio Mascate, da fotógrafa Jazz Oliveira e da MC Lili Black que a frontwoman Gabriellê trabalhou semana após semana, na composição e produção de uma track digna do prêmio final do reality - a chance do grupo de virar embaixador da Budweiser em eventos no Brasil e no mundo. E a mensagem viria desde a escolha do nome da música, "Bonde Black".
"Eles olham e querem ser / black black como eu / mas não querem morrer / feito os black que nem eu", diz o refrão da faixa. "A letra menciona sobre quererem roubar isso de nós, nossa alegria de estar vivos", diz Lili Black. Composta no segundo episódio do reality, a canção foi responsável por levar o time passo a passo até a final.
"Por vezes, para nós é difícil falar de coisas boas, porque tudo em nossa volta sistematicamente está dado para marginalizar pessoas negras, e diariamente somos feridos com notícias de genocídio, racismo, entre outras", complementa Gabriellê. Para ela, direcionar a frustração e a raiva para processos criativos é um exercício diário de jovens negros e periféricos.
Trajetória de milhões
Se superar a si próprio tornou-se um desafio para o Bonde Gabriellê, foi no Sobe Junto que os quatro integrantes puderam botar-se à prova. Confrontado com outros cinco grupos talentosos - Kiara, Kell C., Kyriê, Ashira e Rap Plus size -, o time precisou provar sua capacidade de trabalhar unido e de assimilar as dicas dos jurados.
"[O Bonde Gabriellê] tinha um papo maneiro, um papo necessário, mas musicalmente no começo estava faltando atitude, personalidade", diz BK, um dos jurados do programa. De fato, desde a estreia, no segundo episódio do reality, o quarteto se deparou com a insegurança, que quase o eliminou em diversas etapas do programa: "A gente estava vindo numa maré de quase eliminar Gabriellê", conta Thamirys Borsan, também jurada.
“A gente esperava dar nosso melhor em tudo, mesmo com as inseguranças e nervosismo que bateu algumas vezes. O que nos deixava mais seguros era a nossa parceria. Quando tivemos retorno positivo do BK, nos atentamos ainda mais em todas as dicas, pois sabíamos que o programa em si esperava uma evolução da música e isso incluía pensar o conceito artístico, performance, ensaio fotográfico, ideias para o videoclipe, o que fizemos com muito empenho", avalia Fabricio.
Após um par de dificuldades nos primeiros episódios, o Bonde Gabriellê começou a entender o jogo e apresentar uma evolução constante, que impressionou jurados e competidores. No segundo desafio, veio o acréscimo de Lili Black para uma parte importante da música final. "Lili Black trouxe uma dinâmica nova para Gabriellê", explica a jurada Tássia Reis. O apresentador, Froid, concorda: "a gente conseguiu perceber ali um pouco mais da personalidade do bonde".
Mais que os jurados, o bonde Gabriellê chegou com o apoio dos ex-concorrentes. "Acho que me identifico mais com o bonde da Gabriellê para torcer! São pessoas incríveis, com talento e mensagens que super me identifico e admiro", declarou Kell C. "Com certeza, nosso bonde quando saiu começou geral torcer pro bonde black, justamente porque mesclar Rap com Funk, o Bonde Gabriellê é a cara da quebrada", declarou Keyla, do Bonde Kyriê.
Na final, o Bonde Gabriellê acabou seguindo sua estratégia - e, com coerência, escolheu símbolos visuais que representassem sua mensagem de riqueza cultural, legado e indignação. Sem esquecer da celebração, do baile funk e do baile charme, o grupo incorporou mensagens de protesto: "É importante que falemos dessa revolta, afinal, nosso povo foi sequestrado, escravizado e ainda luta para conseguir ter o mínimo de dignidade nessa sociedade", explica Lili Black. Foi a cereja do bolo do bonde, a produção consciente que acabou dando a vitória ao Bonde Black, ou Bonde Gabriellê, os novos embaixadores globais da Budweiser Brasil.
"Ter nós, artistas negros e periféricos, como embaixadores da Budweiser nos afirma o quanto podemos sonhar grande e ocupar todos os espaços que desejarmos", diz a produtora Jazz, "Saber que vamos cantar em palcos grandes a convite da marca que é mundialmente conhecida, nos deixa muito animados e empenhados para nos preparar para isso".
Em 2022, o bonde segue na ativa, com trabalhos individuais e colaborações. Gabriellê vai entregar seu álbum de estreia. Lili Black vai lançar o seu primeiro EP. Fabricio também anunciou um disco e Jazz deve continuar trabalhando em projetos artísticos e como fotógrafa. Pelos palcos mundo afora, porém, eles seguem juntos, mostrando o que Emicida, Drik Barbosa e Matuê cantaram na faixa tema do reality - o grande segredo que o quarteto soube aprender: "Quem sonha junto, sobe junto".