Estreia da segunda temporada de The Last of Us: Começa o mau presságio
A série começa no quase paraíso pós-apocalíptico de Jackson, Wyoming - mas há uma tensão latente entre Ellie e Joel, e problemas maiores no caminho
Tomás Mier, Rolling Stone EUA
Publicado em 14/04/2025, às 12h47
Este post contém spoilers do episódio desta semana de The Last of Us, que já está disponível na Max.
Quando a segunda temporada de The Last of Us começa, voltamos exatamente ao ponto onde Joel e Ellie pararam, com ele mentindo para ela sobre o que aconteceu enquanto ela estava inconsciente. Ellie não acredita nele, mas também precisa acreditar, porque ele é o Joel e ela é a Ellie, e tudo o que eles têm é um ao outro. Então, ela se força a aceitar algo que claramente sabe que é uma mentira. Em seguida, a ação volta para Salt Lake City, onde vemos um grupo de sobreviventes dos Vagalumes jurando se vingar de Joel a qualquer custo. Como diz a líder desse pequeno grupo, Abby (Kaitlyn Dever): “Quando a gente matar ele, vai ser devagar.”
Ao entrarmos nos créditos de abertura(*), parece que talvez o plano seja manter a trama nessa linha do tempo aproximada. Embora dois anos tenham se passado no mundo real, Bella Ramsey não parece muito mais velha (ajuda o fato de já estarem no fim da adolescência enquanto interpretavam uma garota de 14 anos), então seria possível manter. Mas não é para onde o segundo jogo vai(**), e, portanto, não é o caminho que Craig Mazin e Neil Druckmann escolheram para a segunda temporada.
(*) Pelo menos nas cópias para a imprensa, a sequência de abertura é a mesma da temporada anterior, o que é decepcionante. É parte de uma praga recente em aberturas de séries de TV (O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder é outro grande exemplo), que consistem apenas em longas e lentas montagens em CGI com música sombria. Não é algo interessante de ver mais de uma vez (se tanto), e diz pouco sobre a série. Ou criem algo envolvente, ou simplesmente usem um cartão de título rápido e deixem os créditos para depois do episódio.
(**) Para lembrar: esses resumos estão sendo escritos por alguém que nunca jogou nenhum dos dois jogos. Sei que esta temporada é amplamente fiel à primeira metade de The Last of Us Part II, mas estou abordando tudo puramente como série de TV, e não analisando o que está ou não condizente com o jogo.
Em vez disso, avançamos cinco anos no tempo (o que significa que a série agora se passa levemente no futuro). Joel e Ellie voltaram para Jackson para ficar com Tommy, Maria, o filho deles, Benjy, e uma comunidade que cresce e aparentemente prospera a cada dia. Joel parece ter deixado seus dias de herói de ação para trás, usando agora suas habilidades de empreiteiro para ajudar na infraestrutura da cidade. (Seu cabelo está mais grisalho, e ele usa óculos de leitura para trabalhar.) Ellie está com 19 anos e é uma presença constante nas patrulhas, com uma nova parceira na matança de zumbis: sua melhor amiga e evidente crush, Dina (Isabela Merced). Ela está se divertindo muito com isso, e também recebendo treinamento de combate com Jesse (Young Mazino), o namorado de Dina, com quem ela vive um relacionamento ioiô — mas Ellie quer ter o mínimo possível a ver com Joel, por motivos que podemos supor, mas ainda não sabemos ao certo.
Durante boa parte da estreia, esse é o principal conflito — e mistério. Temos algumas pistas aqui e ali, especialmente quando Joel vai a uma sessão de terapia com Gail (Catherine O’Hara, excelente em um papel sóbrio e dramático, bem diferente do que costuma fazer). Ele lamenta estar mais próximo de Dina do que da própria filha postiça, comentando que Dina o trata como um cara legal, “e eu sou”. Um tipo de autoengano necessário para continuar funcionando após cometer assassinato em massa contra pessoas cujo "crime" era tentar encontrar uma cura para a praga que devastou o mundo. Gail tenta incentivá-lo a dizer em voz alta o que fez e que tanto magoa Ellie — e Pedro Pascal segue mostrando o quanto consegue expressar apenas com pequenas mudanças faciais, enquanto vemos o rosto de Joel se contorcer levemente sob o interrogatório — mas tudo o que ele admite é: “Eu não machuquei ela. Eu salvei ela.” Mesmo que ela não quisesse ser salva daquela forma — o que, em algum nível profundo, Joel sabe, mas não consegue admitir. Ele não consegue admitir que condenou o mundo para se sentir melhor.
A determinação de Joel em ser o protetor não requisitado de Ellie continua em menor escala quando, mais tarde no episódio, ele flagra um morador homofóbico da cidade, Seth (Robert John Burke), repreendendo Ellie e Dina por se beijarem em um baile de Ano Novo e usando um insulto lesbofóbico. Joel intervém, como sempre, e derruba Seth, o que só faz Ellie ficar ainda mais envergonhada e chateada — tanto pelo ocorrido quanto por, em algum nível, entender o que aquilo simboliza sobre Salt Lake City.
Enquanto Ellie e Tommy matam infectados com um rifle de precisão em uma cena anterior, ele reclama que ela não consegue parar de falar alto sobre sua imunidade ao Cordyceps e brinca: “Juro, você e meu irmão são a mesma maldita pessoa.” Mas não sabemos como Joel era na adolescência. E, por mais teimosa que Ellie seja, ela ainda é jovem e está em desenvolvimento emocional, e suas defesas caem completamente quando se trata de sua atração incontrolável por Dina. Parece que a TV vibra sempre que Ellie olha para ela, e Ramsey raramente interpretou a personagem tão vulnerável quanto quando Ellie e Dina estão fisicamente próximas. O comportamento mais romântico de Dina no baile acontece quando ela já bebeu um pouco demais, e o momento é imediatamente arruinado por Seth e Joel agindo como idiotas — o que deixa ainda mais difícil para Ellie entender o quanto daquele beijo foi real. E piora ainda mais o fato de Joel ter se metido nesse momento tão confuso para ela.
Mas, apesar das emoções à flor da pele de Ellie, ela e Dina formam uma excelente — embora facilmente distraída (e divertida) — dupla na hora de enfrentar os infectados. As coisas não saem como o planejado quando as duas entram em uma loja abandonada, já que Ellie cai por um chão apodrecido para um nível inferior e encontra um infectado que é… inteligente. Ou, pelo menos, capaz de caçar de forma estratégica, em vez de apenas perseguir qualquer coisa que ouve. E, se isso não for um caso isolado, representa um enorme problema para os restos da humanidade — a maioria das pessoas sobreviveu com uma mistura de sorte e inteligência para superar essas criaturas de mente única.
Mais para o fim do episódio, vemos que o Cordyceps infiltrou os canos do canteiro de obras que Joel estava supervisionando, sugerindo que mesmo lugares relativamente seguros não são realmente seguros. Para enfatizar isso, o episódio termina com a revelação de que o grupo de Abby finalmente encontrou seu alvo e está bem perto de Jackson.
Durante boa parte da estreia, Jackson parece o mais próximo do paraíso possível em um mundo pós-apocalíptico. Mas essa não é uma série — e Joel e Ellie não são pessoas — feitas para o paraíso. Os problemas sempre estiveram vindo atrás deles. E já chegaram.
Texto publicado originalmente na Rolling Stone EUA em 13 de abril de 2025