ENTREVISTA

Gregório Duviver sobre abordar paternidade em nova audiossérie: 'Um romance de formação'

Com convidados especiais, ator e escritor discute os desafios da paternidade de forma sincera e bem-humorada em O Pai Tá Onde?, da Audible

Giulia Cardoso (@agiuliacardoso)

Publicado em 17/03/2025, às 15h15
Gregório Duviver sobre abordar paternidade em nova audiossérie: 'Um romance de formação' - Divulgação/Rogério Rezende
Gregório Duviver sobre abordar paternidade em nova audiossérie: 'Um romance de formação' - Divulgação/Rogério Rezende
“Olho para essa série como um romance de formação. No qual o protagonista está tentando responder  a uma pergunta e, para isso, vai atrás de um monte de gente”, diz Gregório Duvivier

É com essas palavras que o ator, escritor, roteirista e humorista, conhecido principalmente por seu trabalho no canal Porta dos Fundos, no YouTube, define O Pai Tá Onde?, sua nova audiossérie original da Audible, que discute a paternidade nos tempos modernos.

Idealizada e narrada por Gregório, com roteiro escrito por ele em parceria com Helena de Castro e Orlando Calheiros, a novidade apresenta, de forma sincera e bem-humorada, os desafios da paternidade atualmente.

Em dez episódios, O Pai Tá Onde? busca questionar o papel do pai no século XXI e desmitificar temas como parentalidade e patriarcado. Pai de duas meninas, Gregório falou à Rolling Stone Brasil sobre a ideia para o projeto que surgiu a partir de uma necessidade:

“Desde que eu tive filhas, foi muito transformador para mim. E eu lembro dessa lacuna que é ter poucas informações para pais, sabe? Tem muita coisa para mães”, afirma.

Para Gregório, não é dada a devida importância à paternidade e a escassez de discussões sobre o tema na literatura e na arte reforçam a dificuldade dos pais de falarem sobre o assunto: "É por isso que o título é uma pergunta. Onde é que está o pai? Onde ele deveria estar? A gente fala muito sobre o pai ausente, mas e o pai presente? Onde é que ele tem que estar presente? Como? Qual é o lugar do pai?", questiona.

Diferentes perspectivas sobre o assunto

Para preencher essas lacunas, Gregório contou com a ajuda de um time de convidados de peso, como Thiago Queiroz, psicanalista e criador do canal "Paizinho, Vírgula!"; Vera Iaconelli, psicanalista e autora dos livros "A Solução Está no Afeto" e "Manifesto Antimaternalista"; Elisama Santos, comunicadora, psicanalista e autora dos livros "Educação Não Violenta" e "Conversas Corajosas"; e o músico e apresentador João Gordo, da banda Ratos de Porão; que trouxeram a sua própria visão sobre diferentes assuntos:

"O advogado criminal Joel Luiz, por exemplo, falou sobre a paternidade preta de uma maneira tão bonita que virou um episódio inteiro em que ele, inclusive, falou uma coisa bonita, que eu não sabia: no Brasil, você pode figura jurídica que não é adoção, é a perfilhação", relembra Gregório, sobre o ato legal de reconhecimento de paternidade ou maternidade de alguém. "Você consegue ter três pais, por exemplo."

Mesmo com uma rica seleção de convidados, Gregório revela que, se pudesse, traria ainda mais pessoas para o projeto, como o humorista Paulo Gustavo, pai de gêmeos, que faleceu em 2021, vítima da covid-19; e até o poeta e dramaturgo William Shakespeare:

“O Paulo Gustavo seria uma pessoa que falaria bem sobre [o assunto]. Ele foi pai de duas crianças e falou muito sobre a mãe [dona Déa Lúcia, inspiração para o sucesso Minha Mãe é Uma Peça]. Eu queria ouvir, por exemplo, ele falando sobre pai. Como foi a experiência dele como pai, como foi a experiência dele com o pai. Poderia ter sido bonito", imagina.

Quanto à participação de ShakespeareGregório gostaria de ter a oportunidade de confrontá-lo sobre o seu papel como pai: "Pra gente tentar entender se ele foi pai ou não. Perguntar: 'E aí, você foi pai? Então por que você foi esse pai merda? É fácil escrever 30 peças sendo um pai merda, não é?'", brinca.

O impacto pessoal do projeto 

Na conversa, Gregório ainda diz que o projeto acabou se tornando uma "espécie de terapia" e o ensinou muito sobre a paternidade e as suas diferenças: "Aprendi sobre mim mesmo, sobre a minha vida", contou. No último episódio da audiossérie, em que conversou com o próprio pai, o músico e escultor Edgar Duvivier, o ator se emocionou ao se aprofundar em temas que, muitas vezes, são evitados por serem dolorosos:

"Foi interessante ver como é difícil falar sobre uma experiência paterna na nossa cultura, sabe? Ela diverge muito. Inclusive, tem muito a ver com classe, raça, região do país. Tem um monte de fatores que fazem com que as paternidades sejam radicalmente diferentes", constata.

Futuro de O Pai Tá Onde?

Apesar da tentativa de abordar diferentes aspectos sobre a paternidade, muitos assuntos acabaram de fora de O Pai Tá Onde?, o que leva Gregório a considerar expandir o projeto para abordar novos temas e trazer diferentes convidados:

"A paternidade homoafetiva é algo que não falei muito", exemplifica. "Ou a paternidade de pessoas com deficiência, que é um problema que a gente tem no Brasil. É muito maior o índice de crianças não registradas por pais se a criança for PCD."

Ainda assim, com o que conseguiu com O Pai Tá Onde? até agora, Gregório espera que os pais comecem "a se perguntar, se analisar e a entender que a partenidade exige uma reconstrução e não a repetição nossos traumas": "O que eu mais queria passar é que [a paternidade] pode ser a maior alegria do mundo mesmo. Então, que a gente não encare como uma tarefa", completa.

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