Coachella 2025

Lady Gaga prova por que é um ícone pop de uma geração durante show no Coachella

Cantora transformou o deserto em uma casa de ópera e contou a história de Mayhem, entre clássicos e novas faixas em uma sequência gótica

Aline Carlin Cordaro (@linecarlin)

Publicado em 13/04/2025, às 11h30
INDIO, CALIFORNIA - APRIL 11: (FOR EDITORIAL USE ONLY) Lady Gaga performs at the Coachella Stage during the 2025 Coachella Valley Music and Arts Festival at Empire Polo Club on April 11, 2025 in Indio, California. (Photo by Kevin Mazur/Getty Images for Coa
INDIO, CALIFORNIA - APRIL 11: (FOR EDITORIAL USE ONLY) Lady Gaga performs at the Coachella Stage during the 2025 Coachella Valley Music and Arts Festival at Empire Polo Club on April 11, 2025 in Indio, California. (Photo by Kevin Mazur/Getty Images for Coa

Gárgulas góticas surgiram, as luzes se apagaram e o público começou a entoar o nome da prima donna no que parecia uma ópera ao ar livre em pleno deserto. Era sexta-feira à noite no Coachella, e Lady Gaga estava prestes a contar a história de Mayhem — e entregar a performance de uma vida.

Ao longo de duas horas e quatro atos, Gaga deu vida a um conflito interno entre duas versões de si mesma: a luz (uma Gaga angelical e inocente, de cabelos loiros) e a escuridão (a “dama de vermelho” sombria da faixa “Abracadabra”).

No primeiro ato de seu show como headliner, ela surgiu no palco com um vestido colossal de três andares e cantou “Bloody Mary”, abraçando o novo fôlego que a música de Born This Way ganhou no TikTok. Em seguida, apresentou “Abracadabra”, canalizando uma cantora de ópera da era vitoriana em um universo paralelo sombrio. Na sequência, veio “Judas”, com Gaga revivendo a coreografia original do clipe que causou polêmica à época.

“Como vocês estão essa noite... bem-vindos à minha casa do caos,” disse Gaga ao público após o interlúdio “Scheiße” e a faixa “Garden of Eden”.

Ela encerrou o primeiro ato com um confronto direto entre seus lados bom e mau ao som de “Poker Face”, se apresentando em um palco secundário no meio da plateia — aparentemente simbolizando a morte da Gaga da Luz.

Mas não por muito tempo. No segundo ato, ela ressurgiu, literalmente, emergindo de um monte de terra vestindo um vestido branco com espartilho, cercada por dançarinos com máscaras de caveira. Eles dançaram ao som de “Perfect Celebrity”, em um momento que parecia reconhecer de forma poética que o estrelato pleno só chega, muitas vezes, após a morte.

“Eu amo tanto vocês. Quis fazer um gesto romântico para vocês neste ano em meio a esses tempos de caos. Decidi construir uma casa de ópera no deserto,” disse Gaga antes de cantar “Alejandro”.

“Por todo o amor, alegria e força que vocês me deram durante toda a minha vida. Às vezes sinto que tudo virou um sonho quando eu tinha uns 20 anos, e desde então continuo nesse sonho. Eu não sabia se queria acordar… e se vocês não estivessem lá?”

No terceiro ato, Gesaffelstein subiu ao palco e trouxe uma estética futurista a uma narrativa que se passa séculos atrás. Ele comandou as pick-ups em “Killah”, que Gaga apresentou usando um collant prateado e azul, lembrando suas primeiras apresentações de “Just Dance”. (Segundo ela, era a música que mais queria tocar ao vivo.)

Em “Zombieboy”, Gaga parecia incorporar uma versão de Wandinha Addams, dançando entre esqueletos. Alguns movimentos provocativos com ossos cenográficos certamente vão render críticas dos conservadores de sempre.

Ao longo da apresentação, Gaga também incluiu trechos de músicas que talvez não se encaixassem diretamente na narrativa do show, como uma versão reduzida de “Die with a Smile” e uma emocionante performance de “Shallow”, que trouxe à tona uma Gaga mais humana.

“Você é quem escolhe ser. Sempre será. E obrigada por me ensinar isso,” declarou a cantora à plateia antes de mandar um beijo para alguém especial: seu noivo Michael Polansky.

“Amor, eu te amo,” disse. “E obrigada a vocês por me trazerem o meu homem.”

Um dos momentos mais comoventes da noite foi ver Gaga dando atenção especial aos seus little monsters que só queriam receber a bênção da Mother. Durante “Vanish into You”, ela interagiu com os fãs que enfrentaram o calor escaldante do deserto para vê-la de perto — e, segundo todos, valeu a pena.

No grand finale, Gaga retornou ao palco como um anjo de penas, renascida do além, enquanto “Bad Romance” começava e fogos de artifício coloriam o céu. “Somos monstros, e monstros nunca morrem,” dizia a mensagem no telão. Mayhem não terminou em tragédia: dentro de Gaga, luz e sombra coexistem — e cabe a ela decidir qual abraçar.

Com direção criativa de Parris Goebel, a performance foi uma experiência visual e emocional que consolidou ainda mais Gaga como um ícone pop único em sua geração.


Essa matéria é uma tradução da Rolling Stone americana, escrita por Tomás Mier e publicada em 12 de abril de 2025. Leia a versão original aqui.