Ator foi demitido da série que protagonizava em 2011, no meio da oitava temporada, após disparar ofensas públicas contra o criador da obra, Chuck Lorre
Publicado em 22/01/2024, às 10h00
Charlie Sheen sempre foi visto como um ator talentoso e problemático na mesma proporção. A situação chegou ao extremo durante aquele que talvez seja o seu trabalho mais famoso: Two and a Half Men, série também conhecida no Brasil como Dois Homens e Meio.
O astro americano interpretou o personagem Charlie Harper por oito temporadas, até que seu comportamento errático — para dizer o mínimo — lhe rendeu uma ruptura com o diretor e criador da obra, Chuck Lorre, e a subsequente demissão do protagonista.
Sofrendo com problemas ligados ao abuso de drogas, Sheen concedeu entrevistas para o apresentador de rádio Alex Jones e o site TMZ (via site Igor Miranda), no ano de 2011, chamando Lorre de “nazi”, “palhaço”, “charlatão”, “verme” e “perdedor”. Imagine ir a público e definir seu chefe com essas palavras todas? Pois é.
A partir daí, não apenas Two and a Half Men entrou em declínio — Ashton Kutcher entrou para o elenco, mas apesar do interesse inicial, a produção não conseguiu manter os números de audiência — como também a própria carreira de Charlie. O ator desenvolveu poucos trabalhos desde seu rompimento com o seriado.
Mais de uma década após a sua saída da produção televisiva, Sheen compartilhou reflexões bastante realistas a respeito de tudo o que aconteceu. Ele, que fez as pazes com Lorre e irá trabalhar junto do cineasta na série Bookie (disponível no HBO Max), reconheceu em entrevista ao Deadlineque “estragou tudo” em relação a Two and a Half Men.
“Se eu não tivesse estragado tudo, poderíamos ter feito essa série pelo tempo que quiséssemos. Então, eles dizem: não viva arrependido, mas honre o que você fez. Você precisa extrair aprendizados.”
Ainda durante a entrevista, Sheen foi convidado a compartilhar o que pensa quando lembra de Two and a Half Men. Ele tende a analisar o período como “bons tempos” ou fica triste ao se dar conta que ele próprio estragou algo muito bom? O astro responde:
“Tenho ótimas lembranças. Anos de ótimas lembranças, quando estávamos fazendo algo que as pessoas realmente gostavam muito. E não dávamos nada como garantido. Estávamos trabalhando muito duro naquele programa, em todos os aspectos da produção, desde a sala dos roteiristas até a equipe e o elenco. Todo mundo. Sabíamos o que tínhamos e o valor de dedicar tempo para criá-lo adequadamente.”
Ao dar sequência em sua reflexão, Charlie Sheen disse que, desde o primeiro dia, sabia que existiam regras estipuladas para que Two and a Half Men funcionasse. Era preciso, de fato, se dedicar muito para que a série fosse produzida da forma esperada — e não sucumbir a outras distrações típicas do mundo das celebridades, especialmente o abuso de drogas.
“Eu conhecia as regras desde o primeiro dia, exatamente o que era exigido de mim para contribuir com este local de trabalho, o que era esperado de mim. Quando comecei a me opor a essas regras, elas nunca mudaram. [...] Em algum momento ao longo do caminho, decidi que as regras não se aplicavam mais a mim. E isso não era justo com o sistema que existia.”
A reportagem destacou que nas últimas temporadas de Sheen no seriado, era possível perceber que seu rosto estava mais magro e havia certa apatia em sua interpretação. O ator não apenas confirmou, como também disse que houve algumas vezes em que conseguiu sair do caminho obscuro em que estava entrando.
“Fui procurar ajuda, melhorei e voltei. Não sei por que não consegui fazer isso de novo. Eu sempre procurava alguém para culpar. Não é justo, inclusive com Chuck. Passei por dois divórcios, tive quatro filhos durante aquele show. Havia muita m#rda na minha vida pessoal que me distraía um pouco. Mas você tem que deixar essas coisas na porta do estúdio. Isso é difícil, mas você tem que deixar. Houve um momento em que eu estava na reabilitação e acho que terminamos a 7ª temporada, ou estávamos tentando terminar a 7ª temporada, e recebemos o pedido de renegociação. E eu estava ao telefone com meu gerente e acho que com um dos agentes. E eu disse: ‘não sei, cara, sinto que talvez tenhamos atingido nosso limite aqui’. E eu ouvia: ‘não, não, não, cara, há muito mais histórias para contar’. Tradução: dinheiro a ser ganho para eles.”
Apesar da reclamação de Charlie Sheen no que diz respeito a dinheiro, seu cachê era bastante generoso àquela altura: US$ 1,8 milhão por episódio. O ator reconheceu que é muito dinheiro, mas ele já sentia que não deveria ter retornado para uma oitava temporada.
“Eu dizia: ‘não sei, meu instinto está gritando que se eu voltar, tudo vai dar terrivelmente errado’. Falei para eles, inclusive. [...] Talvez fosse a hora de parar. Mas aí você se curva? Não! Fechamos o novo acordo e todos ficaram felizes e então tudo ficou horrível. Tudo correu horrivelmente.”
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.