Com críticas ao capitalismo e retratos cruéis da sociedade, Round 6 é grande sucesso de audiência desde o dia do lançamento
A série sul-coreana Round 6 estreou no catálogo da Netflix em 17 de setembro de 2021, e em poucas semanas estabeleceu-se como um dos maiores sucessos do streaming. No Rotten Tomatoes, a produção tem mais de 90% de aprovação, além de alcançar o topo de séries mais assistidas em 84 países. Mas de onde vem tanto sucesso?
Para entender (ou pelo menos refletir) sobre o sucesso avassalador da série da Netflix, é necessário começar pela trama da produção. Round 6 acompanha pessoas endividadas e desesperadas que aceitam participar de uma competição mortal na tentativa de chegar ao final e receber o prêmio de 49 bilhões de wons (cerca de R$ 221 bilhões).
Ainda, a produção apresenta os terríveis VIPs — pessoas que pagam para assistirem aos jogos mortais e apostam nos participantes, além de caçoar dos que não seguem adiante na competição.
Em uma mistura de ação, cenas sangrentas, críticas sociais, personagens complexos e alguns toques — tragicamente — cômicos, Round 6 entrega ao espectador nove episódios de muita adrenalina e angústia. E o sucesso prova que é inegável a grandiosidade da série.
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Em tempos de home office, pandemia, crise financeira e política, é difícil não sentir que, em algum momento, somos humilhados pelo mercado de trabalho. Round 6 explora essas frustrações em um ápice, não retratando uma narrativa totalmente distópica, mas exagerando situações possivelmente vivenciadas por muitos — e isso gera um processo de identificação.
Conforme explicou o historiador Gustavo Nassar Gaiofato nas redes sociais, mais do que precariedade financeira, Round 6 aborda a crueldade do mercado em tirar a dignidade do trabalhador, que muitas vezes sofre sem recursos ou direitos básicos. Ao extremo, esta é a realidade da trama.A produção, contudo, deságua e potencializa todas essas problemáticas em um jogo onde se paga com a vida.
Segundo o historiador, jogos como "Mega Senha" e "Agora ou Nunca" também podem servir de paralelo à humilhação e desumanidade do jogo mortal de Round 6. A série trabalha como a competição e a dor é transformada em riso ou em um mero programa de entretenimento. Afinal, até onde o mercado de trabalho e o sistema capitalista submetem o trabalhador?
Além disso, mostra como o capitalismo, por criar uma falsa ideia de escassez de recurso, fomenta um tipo de competição mortal, onde os indivíduos são jogados uns contra os outros para poder ganhar o dinheiro e pagar suas dívidas.
— Gustavo Nassar Gaiofato (@gaiofact) October 4, 2021
Apesar de abordar cruéis elementos cotidianos da sociedade, a série Round 6 também aposta no exagero dessas características, principalmente quando se trata da violência. Cada jogo, cenário ou morte é explorada em sua máxima bizarrice — algo que, definitivamente, chama a atenção.
Conforme explicou o psicólogo Sérgio Oliveira em entrevista ao AquiNotícias, não existe uma única resposta para o interesse do público em assuntos mórbidos. O ser-humano, contudo, é curioso — o que pode justificar o sucesso produções sobre serial killers no streaming. O espectador se vê diante de um tabu, considerado atraente por ser, justamente, proibido.
Em Round 6, as cenas violentas que passeiam entre os limites da vida e da morte também geram curiosidade e atração. Afinal, como os participantes da competição vão conseguir (ou não) desviar do esperado final trágico?
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Ao abordar situações cotidianas, mesmo que de forma exagerada, a trama abre a possibilidade para haver uma identificação entre público e série. Os espectadores podem se enxergar nas tragédias que acontecem no enredo, além de buscar nos personagens aspectos que remetam a si próprios.
Afinal, em uma competição pela vida (e pelo prêmio de 49 bilhões de wons) quem você seria? A pessoa que tentará chegar ao final a qualquer custo ou o participante que, mesmo em uma situação extrema, irá manter valores de convivência e moralidade?
Parece que enquanto observamos o enredo trágico de Round 6, passeamos entre os personagens e as respectivas estratégias de jogo, em busca de definir que categoria de competidor seríamos nessa situação.
Além de reflexões sobre a crueldade da sociedade, as questões técnicas de Round 6 também ajudam para o sucesso da série. A produção é dividida em nove episódios de cerca 50 minutos — e a cada final de capítulo, uma reviravolta ou um acontecimento extremo faz o espectador pular para o próximo imediatamente.
O ritmo da série, construído com maestria ao longo dos episódios e etapas da competição mortal, aumenta a angústia do espectador, que se vê inserido nos acontecimentos e jogos imprevisíveis. Nunca se sabe o que está por vir.
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Ainda, o elenco fantástico consegue transmitir, através das atuações emblemáticas, o sofrimento e a complexidade de cada personagem. Envolta por um mistério, a origem e os motivos de cada competidor participar do jogo é desenvolvido ao longo da narrativa — o que estabelece uma relação ainda maior entre a trama e o espectador.
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