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The Bear: 4ª temporada entrega exatamente o que o público queria

Após uma terceira temporada irregular, a aclamada série da FX retorna com tensão, caos comovente e aquela dose certeira de satisfação

Redação

Jeremy Allen White vive Carmy na série The Bear
Jeremy Allen White vive Carmy na série The Bear - FX

Haverá apenas um verdadeiro spoiler nesta resenha da quarta temporada de The Bear (O Urso) — mas é algo revelado logo nos primeiros minutos da estreia, e é impossível falar sobre o retorno do drama gastronômico sem tocar nesse ponto. Então, se você não quer saber se a crítica do Chicago Tribune sobre o restaurante — ou seja, o grande gancho do final da controversa terceira temporada — foi positiva ou negativa, volte depois. A temporada completa já está disponível no Hulu.

Como muitos já esperavam, principalmente após a reação explosiva de Carmy no final anterior, a crítica é negativa. O título da matéria é: “Faltam os Ursos Essenciais: THE BEAR tropeça em meio à dissonância culinária”. Pelo pouco que vemos do artigo, o crítico elogia o sanduíche de Italian beef — a única parte do restaurante que antecede a chegada de Carmy — e reclama que o resto da experiência variava demais de uma noite para outra. Entre as críticas, está o fato de a equipe de atendimento ter dificuldades para explicar o cardápio, que Carmy fazia questão de mudar diariamente.

Em outras palavras, a crítica do Chicago Tribune soa bem parecida com muitas das resenhas que The Bear recebeu em 2024 — incluindo a nossa. Após duas temporadas aclamadas de forma praticamente unânime, a série da FX, assim como seu protagonista, ficou ambiciosa demais no ano passado.

A terceira temporada começou com um poema visual relembrando a trajetória culinária de Carmy. Deu tempo demais de tela para chefs da vida real, cuja presença ao lado de atores experientes frequentemente drenava a energia das cenas. A então vencedora do Emmy de Melhor Série de Comédia praticamente abandonou qualquer esforço cômico, exceto nas cenas com a família Fak — agora quase caricatural —, à qual a série resolveu dar destaque total.

Houve um episódio excelente focado na história de origem de Tina e seu primeiro encontro com Mikey. Mas, no geral, a terceira temporada raramente chegou aos picos criativos da segunda, amplamente considerada uma das melhores já feitas. E o final abrupto deixou claro que o criador Christopher Storer estava tratando os episódios da terceira e da quarta como uma única temporada gigante — apenas separada por um hiato de 12 meses.

Houve atuações potentes e momentos belíssimos isolados. Mas, assim como o restaurante que dá nome à série, The Bear tentou fazer coisas demais, o que resultou numa temporada que não foi coesa — e tampouco satisfatória.

Carmy passa boa parte da nova temporada absorvendo a crítica do Chicago Tribune e tentando ser um chef, chefe, amigo e irmão melhor. E, seja isso parte de um plano já existente ou uma resposta direta de Christopher Storer à recepção mais morna da temporada passada (*), a quarta temporada soa como o trabalho de um artista que foi abalado pelas críticas — e que está se esforçando para aprender com elas e voltar ao que fez o público se apaixonar por sua obra. Carmy pede desculpas para muita gente este ano. The Bear, ao que tudo indica, também.

(*) Isso inclui a série ter perdido o Emmy de Melhor Comédia — referente à segunda temporada, vale lembrar, que foi amplamente amada —, porque a votação aconteceu enquanto a terceira temporada estava sendo exibida. Muitos interpretaram a vitória de Hacks como um recado claro da Academia: ou desaprovação à nova fase de The Bear, ou quem sabe uma crítica ao que consideram “fraude de categoria” (uma série dramática se passando por comédia?).

Há, por exemplo, bem menos participações de chefs famosos interpretando a si mesmos — e as poucas que existem são breves e pontuais. A presença dos Faks também foi bastante reduzida, o que faz com que, quando finalmente temos um episódio mais focado neles, a comédia realmente funcione, em vez de parecer uma repetição exagerada de algo só “mais ou menos” engraçado. Ajuda o fato de que o Convidado Especial Fak deste ano realmente atua, ao contrário da participação de John Cena, que basicamente fazia… John Cena.

Enquanto a terceira temporada às vezes parecia perdida, como se Storer, Joanna Calo e o restante da equipe estivessem apenas ganhando tempo até a história voltar a andar, esta temporada vem com um cronômetro literal na cozinha do The Bear, indicando quanto tempo a equipe ainda tem antes que o Tio Jimmy pare de bancar tudo. Há um objetivo claro: conquistar uma estrela Michelin ou encarar o fracasso, o que traz tensão real e uma sensação constante de avanço.

A nova temporada também aposta muito mais na interação entre o elenco principal, e é justamente a química e o afeto entre esses personagens que explicam por que o público continua voltando para um dos ambientes de trabalho mais estressantes da história da televisão.

O sétimo episódio, por exemplo, reúne quase todo o elenco — além de várias figuras conhecidas do elenco recorrente — numa mesma casa, para o casamento de Tiffany (Gillian Jacobs), ex-esposa de Richie, com seu noivo milionário, Frank (Josh Hartnett). O episódio tem 69 minutos, o que poderia facilmente parecer exaustivo ou pretensioso. Mas os personagens e suas relações são tão bem construídos — até mesmo figuras secundárias, que às vezes aparecem em uma única cena ou com poucas falas — que o episódio se torna aquele tipo raro de televisão em que você gostaria de permanecer para sempre, se pudesse.

Se a temporada em alguns momentos força a barra ao repetir suas mensagens principais, sobre a importância da família escolhida e como, trabalhando em um restaurante, você nunca está realmente sozinho, tudo se justifica em momentos de grande recompensa emocional como esse casamento.

A série continua com uma trilha sonora matadora — e com verba suficiente para bancar Led Zeppelin já na estreia. Ao longo da temporada, o som transita com maestria por diferentes gêneros e décadas, indo do New Wave do começo dos anos 1980 ao alt-country moderno. Mesmo quando a terceira temporada parecia dispersa ou pretensiosa, a ambientação criada pela música e pelo design de produção jamais perdeu o tom. E agora, com mais foco narrativo, esse aspecto se torna ainda mais impactante.

E, claro, há as atuações. Jeremy Allen White e Ayo Edebiri continuam encontrando novas camadas de crueza e vulnerabilidade em Carmy e Sydney. Em diversos momentos, um ou ambos parecem preferir mastigar o próprio braço a continuar em certas conversas difíceis, e esse desconforto e dor transbordam da tela de forma palpável. Ebon Moss-Bachrach aparece um pouco mais leve nesta temporada, enquanto Richie desenvolve uma amizade interessante com Jessica (Sarah Ramos), com quem trabalhou brevemente no Ever, o melhor restaurante do mundo. A dinâmica entre os dois funciona como uma espécie de válvula de escape, tanto para Richie quanto para a própria série: é libertador vê-lo interagir com alguém que ele respeita, mas que não conhece todo o drama e a tragédia da extensa família Berzatto.

Não estamos, vale dizer, de volta ao nível “hall da fama” da segunda temporada, pelo menos, não completamente. Algumas tramas perdem força até o final, até mesmo o cronômetro que dava ritmo à temporada se revela menos importante do que parecia, ou acabam desperdiçando personagens e atores. Após brilhar na terceira temporada e vencer o Emmy, Tina (Liza Colón-Zayas) tem pouquíssimo espaço desta vez; sua trajetória inteira se resume à dúvida se ela conseguirá preparar sua massa um pouco mais rápido. Ainda há também tempo demais dedicado à ex-namorada de Carmy, Claire. Molly Gordon ganha um pouco mais de substância neste ano, em comparação à fase romântica com Carmy na segunda temporada, mas Claire ainda é retratada de forma tão angelical e perfeita que destoa de uma série cuja força está justamente em amar os personagens apesar de suas falhas.

Mas há três episódios que já podem ser considerados clássicos instantâneos: o do casamento, um centrado em Sydney que acompanha uma tarde memorável enquanto ela tenta trançar o cabelo, e o final da temporada — uma única cena, com poucos personagens, mas repleta de impacto. Mesmo os episódios que não são “Muito Especiais” desta vez se mostram mais confiantes, consistentes e, por assim dizer, mais Bear do que boa parte da temporada anterior.

Durante o casamento, Frank pergunta a Claire e ao cunhado Stevie (vivido novamente por John Mulaney, como convidado especial) o que deve esperar agora que todos esses Berzattos — nenhum deles realmente parente de Tiffany (e nem mesmo de “Primo” Richie, aliás) — estão entrando em sua vida. Claire pensa bem antes de responder, avaliando o quanto deve ser sincera com aquele noivo visivelmente sobrecarregado no dia do próprio casamento, até que diz: “É um monte de gente com personalidades muito específicas e únicas, que sentem tudo de forma muito intensa”. Stevie complementa: os Berzattos “sentem tudo profundamente e vivem a vida com intensidade”.

The Bear é uma série que, em seus melhores momentos, consegue transmitir exatamente essa intensidade com que Carmy e os que o cercam experienciam a vida. E, nesta quarta temporada, esses melhores momentos acontecem com muito mais frequência do que na última vez que a vimos.

Este artigo foi originalmente publicado pela Rolling Stone EUA, por Alan Sepinwall, no dia 26 de junho de 2025 e pode ser conferido aqui.

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