Culto ao herói

The Last of Us: O que vem a seguir?

Alguns fãs estão revoltados após os acontecimentos trágicos do segundo episódio; só o tempo dirá se a série sobreviverá às consequências

ALAN SEPINWALL / ROLLING STONE EUA

Ellie, interpretada por Bella Ramsey, reage à grande reviravolta
Ellie, interpretada por Bella Ramsey, reage à grande reviravolta - Liane Hentscher/HBO

Ellie e Joel. Joel e Ellie. Foi essa dupla que tornou a primeira temporada de The Last of Us tão especial. A conexão entre essas duas almas marcadas — ela em busca de uma figura paterna, ele precisando de uma filha substituta, ambos relutantes em admitir isso até para si mesmos —, somada às performances brilhantes de Bella Ramsey e Pedro Pascal, elevou o drama da HBO acima dos clichês das narrativas pós-apocalípticas.

Não que a série fosse super otimista — afinal, a temporada terminou com Joel massacrando um hospital inteiro, matando aqueles que tentavam sintetizar uma cura para a praga que devastara a humanidade, tudo porque ele se recusava a perder Ellie. Mas havia algo na ligação entre eles, e na química dos dois atores, que cativou até quem não tem paciência para zumbis (ou criaturas similares). Enquanto Ellie e Joel estivessem juntos, parecia que uma parte daquele mundo ainda resistia.

E agora?

O episódio de ontem (20) terminou de forma brutal. Abby (interpretada por Kaitlyn Dever), cujo pai era o médico morto por Joel no final da primeira temporada, rastreou-o com a ajuda de seus companheiros de milícia e o espancou até a morte com um taco de golfe. Quando Ellie surgiu, em uma tentativa desesperada de salvá-lo, Abby cravou o cabo do taco de golfe — já quebrado contra o corpo dele — em seu pescoço, matando-o.

É um desdobramento bem conhecido — para o bem e para o mal — por quem jogou The Last of Us Part II. Há anos, os fãs especulavam como, quando e SE a série abordaria esse momento. Os criadores Neil Druckmann (cocriador do jogo) e Craig Mazin poderiam ter adiado a cena, explorando mais o intervalo entre as temporadas ou focando na vida em Jackson e nas ameaças ao redor. Mazin, um roteirista experiente que não esteve envolvido no jogo e, portanto, menos apegado ao material original, até poderia ter sugerido um rumo diferente, considerando a química entre Pascal e Ramsey e a resposta do público.

Mas eles seguiram o jogo fielmente. A morte de Joel acontece praticamente no mesmo ponto da história em que ocorre no Part II (embora o ataque dos infectados a Jackson seja uma adição exclusiva da série). Sem rodeios, sem adiamentos — apenas uma morte fria e cruel.

E, pelo menos entre parte do público que não jogou o videogame, a reação foi imediata: para alguns, aquele foi o último episódio de The Last of Us. Levará um tempo até sabermos se essa virada impactará a audiência, tanto na HBO quanto na Max.

The Last of Us Part II vendeu menos que o original até agora, mas também está no mercado há apenas cinco anos, enquanto o primeiro foi lançado em 2013. Muitos jogadores rejeitaram essa decisão — seja por acreditarem que o coração da história era Joel e Ellie, seja por não aceitarem ver o protagonista heterossexual morto enquanto a anti-heroína queer sobrevive. Não é difícil imaginar qual desses grupos foi responsável pelas ameaças de morte enviadas à atriz Laura Bailey, que deu voz a Abby no jogo. No domingo à noite, Pedro Pascal tentou proteger Kaitlyn Dever de um destino semelhante, postando uma mensagem carinhosa para ela em seu Instagram:

 
 
 
 
 
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Pelo que tem rolado nas redes sociais desde o episódio, as reações se dividem entre dois grupos:

  1. Jogadores, que admiraram a coragem da série em seguir adiante sem prolongar artificialmente a presença de Pedro Pascal;

  2. Não-jogadores, muitos em dúvida se continuarão assistindo — ou que já decidiram abandonar a série.

Para alguns, o fascínio sempre esteve na relação entre Joel e Ellie, mesmo sem grande interesse pelo gênero pós-apocalíptico. Outros argumentam que o mundo real já é sombrio demais, e ver Joel morrer de forma tão brutal (mesmo com parte da violência ocorrendo fora de cena) é mais do que conseguem suportar na ficção atualmente.

Experiência da Rolling Stone EUA com a temporada

Foram vistos todos os episódios e, de acordo com o review, foram evitados spoilers ao expressar a insatisfação com o rumo da série sem Joel. Há momentos brilhantes pela frente: Bella Ramsey está impecável, e as dinâmicas de Ellie com Dina (Isabela Merced), Tommy (Gabriel Luna) e Jesse (Young Mazino) são cativantes — especialmente com Dina. Mas nenhum deles substitui Joel. Até nos flashbacks, a química entre Ramsey e Pascal ofusca qualquer outra interação.

No entanto, esta temporada adapta apenas a primeira metade do segundo jogo. Por isso, só dá para avaliar como a série se sustenta a curto prazo sem Joel — não se o desfecho justificará sua ausência.

Um risco raro na TV

Poucas séries matam seu protagonista (ou co-protagonista) tão cedo por escolha criativa. Alguns casos notáveis:

  • NYPD Blue perdeu David Caruso após a 1ª temporada (que tentou a sorte no cinema sem sucesso), mas sobreviveu graças ao talento de Jimmy Smits — e ao público já estar mais apegado ao personagem de Dennis Franz.

  • Game of Thrones matou Ned Stark no final da 1ª temporada (antes mesmo de Joel), seguindo os livros. A diferença? Sean Bean era o nome principal, mas a trama era tão ampla que sua morte não abalou o núcleo da série como a de Joel, que era metade de uma história centrada em dois personagens.

(*) Curiosidade: Hoje, Pascal é o ator de GoT mais famoso — ironicamente, por interpretar um personagem que também foi introduzido e morto na mesma temporada.

Séries podem sobreviver à saída de protagonistas?

Geralmente, sim — a menos que estejam em declínio natural. The Office continuou sem Steve CarellArquivo X sem David Duchovny… O caso mais emblemático é The O.C., cuja audiência despencou após a morte de Marissa Cooper (Mischa Barton) na 3ª temporada — uma decisão da qual os produtores depois se arrependeram. Mesmo assim, a queda já era perceptível antes.

O que esperar de The Last of Us?

É natural que a série perca parte do público agora. Mas também é justo que os fãs questionem: a série que amávamos ainda existe sem Joel?

Artigo publicado em 21 de abril de 2025 na Rolling Stone. Para ler o original em inglês, clique aqui.

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