Yellowjackets: as melhores cenas musicais da série
Com três temporadas no ar, os criadores Ashley Lyle e Bart Nickerson, ao lado da supervisora musical Nora Felder, contam como construíram a trilha sonora
Angie Martoccio, da Rolling Stone EUA
ATENÇÃO: este post contêm spoilers!
Os criadores de Yellowjackets, Ashley Lyle e Bart Nickerson, não escondem seu lado nerd da música — pelo contrário, têm até orgulho. Pode até rolar uma crítica negativa sobre o roteiro ou a direção que eles lidam numa boa, diz Lyle.
Mas se alguém fala que uma música é ruim, eu já fico tipo: ‘Desculpa, mas você tá errado’”.
A série, que mistura suspense, drama psicológico e flashbacks, acompanha um time de futebol feminino do ensino médio que sobrevive a um acidente de avião nos anos 90 — e, décadas depois, ainda lida com os traumas daquele período. E tudo isso com uma trilha de respeito, recheada de rock alternativo noventista, o som que moldou a adolescência dos criadores. Ambos cresceram no litoral de Nova Jersey ouvindo a rádio WHTG. “Não era bem college rock, nem indie, era aquele meio termo estranho — tipo Refreshments, Live, Belly — que tocava o tempo todo”, lembra Lyle. “Essas músicas marcaram muito pra mim e pro Bart. Pareciam feitas pra série”.
Revisitar essas faixas para compor as cenas mais intensas e perturbadoras virou um exercício emocional — e até de reconciliação. Músicas que eles não suportavam na época por tocarem demais na MTV, ou por fases de “snobismo musical” (Lyle confessa que só ouvia Sleater-Kinney e Team Dresch no ensino médio), agora soam diferentes. “A gente cresceu numa época em que o gosto musical era quase uma identidade”, explica Nickerson.
Desde sua estreia em 2021, Yellowjackets vem sendo elogiada justamente pela trilha sonora. Nora Felder, que já assinou a curadoria musical de séries como Stranger Things, Californication e What We Do in the Shadows, entrou no time a partir da segunda temporada e sentiu o peso da missão. “Fiquei nervosa, claro, mas isso só me deu mais energia pra fazer dar certo”, contou por Zoom. “A ansiedade me move”.
A escolha das músicas é levada a sério: até 20 faixas podem ser testadas para uma única cena. “É tipo criança brincando em caixa de areia”, brinca Felder. O time ainda usa o que Lyle chama de “método do gongo”: qualquer pessoa da equipe pode interromper uma tentativa e dizer que a música não funciona. “Senão a gente perde horas vendo a mesma cena. Às vezes, em 10 segundos já dá pra saber que não encaixa”, explica.
Com o sucesso da série, o orçamento pra trilha até aumentou — mas nem tanto quanto se imagina. Ainda assim, na nova temporada conseguiram incluir duas faixas que queriam usar desde o início: “Morning Has Broken”, do Cat Stevens, e “Livin’ on the Edge”, do Aerosmith. “Agora os artistas estão mais dispostos a negociar”, comenta Lyle.
Algumas músicas vieram na base da insistência — e de cartas. Quando Enya negou o uso de “Only Time” no final da primeira temporada, Nickerson escreveu pessoalmente pra convencer a artista. E funcionou. “Foi surreal escrever ‘Querida Enya’. Um jeito bem maluco de começar uma carta”, ri. Já Laurie Anderson não topou liberar a icônica “O Superman” pra terceira temporada. “No fundo, a gente entende. Ela sempre teve uma integridade artística admirável”, diz Nickerson. “Mas a gente tinha que tentar”.
Com a terceira temporada a todo vapor, Lyle, Nickerson e Felder continuam explorando novas referências, misturando memórias pessoais, cultura pop e muita pesquisa pra criar uma das trilhas mais marcantes da TV recente.
Hole, “Miss World” (Temporada 1, episódio 1)
O clássico “Miss World”, do Live Through This, embala uma festa dos adolescentes enquanto, nos flash-forwards, vemos a versão adulta de Natalie (vivida por Juliette Lewis) saindo da reabilitação. “Esse disco é perfeito do começo ao fim”, diz a showrunner Ashley Lyle. “E Miss World encaixava perfeitamente naquela cena, especialmente como introdução da Natalie”.
A devoção de Lyle pela banda não é pouca coisa. Em setembro de 1994, quando ainda estava no oitavo ano da escola, ela foi a um show do Hole na turnê de Live Through This, no lendário Stone Pony, em Asbury Park. “Levei cinco chutes na cabeça no meio do mosh”, lembra, rindo. “Mas foi o melhor dia da minha vida. Conheci a Courtney Love depois e ela assinou minha camiseta”.
Wilson Phillips, “Hold On” (Temporada 1, episódio 2)
Apesar da trilha sonora de Yellowjackets ser dominada pelo rock, Ashley Lyle escolheu esse hit pop de 1990 para embalar uma das cenas mais impactantes da primeira temporada: quando a jovem Misty (Samantha Hanratty) destrói secretamente a caixa preta do avião. O clássico do Wilson Phillips retorna na terceira temporada, agora acompanhando a versão adulta da personagem (vivida por Christina Ricci), enquanto ela bebe martínis de espresso ao lado do detetive amador Walter (Elijah Wood) — selando de vez a música como tema oficial da socialmente desajeitada Misty. “Essa faixa parece falar sobre o esforço desesperado de resistir à avalanche da própria melancolia”, reflete Bart Nickerson. Lyle complementa: “É muito Misty. Ela é uma garota Wilson Phillips do início ao fim”.
Montell Jordan, “This Is How We Do It” (Temporada 1, episódio 5)
Dentro da cabana, o time faz uma coreografia improvisada ao som desse clássico de festa. “É exatamente o que você faz quando está entediada com as amigas, ainda não tem carteira de motorista e não pode sair à noite”, explica Ashley Lyle. “É como se elas estivessem regredindo, presas naquele lugar”.
Belly, “Gepetto” (Temporada 1, episódio 9)
A faixa do disco de estreia do Belly, Star (1993), embala o episódio do “doomcoming” — uma festa improvisada onde o grupo se arruma e acaba, sem querer, viajando com cogumelos. (Vale a menção honrosa a “Kiss From a Rose”, do Seal, que toca logo depois de “Gepetto”). “As músicas do Belly têm algo de melancólico e, ao mesmo tempo, celebratório”, diz Ashley Lyle. “Acho que é uma das bandas mais subestimadas dos anos 90”. Nickerson completa: “Quase sempre, antes de começarmos a escrever algo, montamos uma playlist. E Belly está em absolutamente todas — ajuda a entrar no clima certo”.
The Offspring, “Come Out and Play” (Temporada 1, episódio 10)
“Tudo bem”, diz a Natalie adulta ao lado de Shauna (Melanie Lynskey) e Tai (Tawny Cypress), antes de abrir a porta do reencontro escolar. “Vamos nessa, porra”. As três entram com tudo ao som do clássico do Offspring — um momento marcante. “Lembro que, quando nos mudamos para Los Angeles, essa música tocava direto no rádio. Pensei: ‘Será que tá rolando uma redescoberta?’”, conta Nickerson. “Mas todo mundo disse: ‘Não, isso aqui é atemporal em LA.’ Tipo um Bon Jovi local”. Lyle lembra que testaram várias faixas para a cena, mas essa ganhou disparado. “A gente ficou até meio surpresa”, diz, rindo.
Radiohead, “Climbing Up the Walls” (Temporada 1, episódio 2)
Embora a primeira temporada tenha deixado pistas, o canibalismo só acontece — alerta de spoiler — no início da segunda, quando o grupo finalmente consome o corpo de Jackie (Ella Purnell). Para embalar essa cena sombria, Lyle e Nickerson escolheram uma faixa arrepiante do OK Computer. “Radiohead e ‘assustador’ são praticamente sinônimos pra mim”, diz Lyle. “A voz do Thom Yorke é um instrumento por si só. Sabíamos que queríamos uma música que tivesse quase um efeito instrumental, que não disputasse atenção com o que estava acontecendo, mas sim amplificasse tudo. O tom onírico, o clima estranho… funcionou de forma perfeita”. Nickerson completa: “Não sei nem explicar o quanto essa sequência me emociona em vários níveis”.
Tori Amos, “Bells for Her” (Temporada 2, episódio 3)
Essa faixa do segundo álbum de Tori Amos, Under the Pink (1994), embala uma das cenas mais estranhas da segunda temporada, quando o grupo encontra pássaros mortos espalhados ao redor da cabana coberta de neve. “Sou completamente fã da Tori”, conta Lyle. “Fiz aula de piano por muito mais tempo do que queria, e cheguei a dizer pros meus pais: ‘Continuo nas aulas, mas só se eu puder tocar músicas da Tori’”. Para a showrunner, a estranheza sem filtro e a carga emocional intensa da artista têm tudo a ver com o universo de Yellowjackets. “Sentimos que falhamos por não ter colocado nenhuma música da Tori na primeira temporada, então compensamos na segunda”.
Sparks, “Angst in My Pants” (Temporada 2, episódio 4)
A faixa-título do duo de art pop lançada em 1982 embala de forma brilhante a introdução de outra dupla peculiar: Misty e Walter em sua versão adulta — dois detetives amadores que parecem ter sido feitos um para o outro. A cena mostra os dois em quartos de hotel separados, mas agindo em sincronia total: colocando controles remotos em sacos plásticos, desinfetando os telefones fixos, examinando cada canto como se fossem parte de uma coreografia meticulosa. “É deliciosamente esquisita”, comenta Lyle sobre a música. “O tom e a energia da faixa combinam tão perfeitamente com os personagens que a gente só consegue pensar: ‘Ainda bem que essa música existe. Era exatamente o que precisávamos’”.
4 Non Blondes, “What’s Up?” (Temporada 2, episódio 5)
A primeira vez que vemos Van adulta (vivida por Lauren Ambrose) é em uma locadora de vídeo, ao som de um hit de 1993. “Foi daquelas situações em que as peças do quebra-cabeça simplesmente se encaixaram”, diz Nickerson. “A música entrega muito de uma personagem que o público já conhece, mas que está prestes a mostrar um novo lado”. Lyle comenta que a faixa é figurinha carimbada nas noites de karaokê com os amigos do casal. “É uma daquelas pérolas dos anos 90 que quase não acontecem mais — uma música que, de tão estranha, nem parece que virou um sucesso nas rádios. Mas virou. E é um hino. A gente tem muito carinho por ela”.
Blur, “Song 2” (Temporada 2, episódio 6)
Esse hino do britpop funciona como uma ponte entre dois momentos: um flashback pré-acidente, com o time das Yellowjackets assistindo a um vídeo de parto na aula de saúde, e 1996, quando Shauna (Sophie Nélisse) está em trabalho de parto. “Esse episódio, em particular, é bem pesado, então precisávamos encontrar alguns respiros… diversão não é exatamente a palavra, mas trazer um pouco de espírito anárquico”, explica Lyle. “A música funcionou muito bem nesse contraste irônico da abertura com a situação em que a Shauna se encontra”. Segundo ela, a escolha foi quase imediata: “Não foi preciso testar muitas opções. A gente soube bem rápido que era essa”.
Live, “Lightning Crashes” (Temporada 2, episódio 7)
Essa pérola do pós-grunge toca enquanto uma jovem Lottie (Courtney Eaton) permite que Shauna a ataque brutalmente, enquanto na linha do tempo de 2021, as sobreviventes dançam ao redor de uma fogueira. “Essa música é descaradamente bombástica”, diz Lyle. “É tão dolorosamente sincera, com a letra ‘sua placenta cai no chão’. Ed [Kowalczyk] está indo com tudo, cara! Tem algo sobre o quanto ela cresce e se torna celebratória. Ter essa música nesse momento, onde elas estão realmente se reconectando e voltando a ser quem eram e a amizade que tinham, funcionou muito bem pra gente. Existem poucas músicas na história da música gravada que poderiam funcionar tão bem com um monte de mulheres bêbadas dançando e uma garota espancando outra”.
Smashing Pumpkins, “Bullet With Butterfly Wings” (Temporada 2, episódio 8)
Yellowjackets já havia apresentado “Today” e “Drown”, mas essa faixa de Mellon Collie and the Infinite Sadness foi a melhor utilização dos Pumpkins, tocando enquanto as meninas perseguem Natalie pela selva em uma missão para matá-la. Embora os criadores frequentemente se sintam atraídos por músicas com uma certa sinceridade, Lyle diz: “Essa música é simplesmente tão irritada, tão descaradamente punk rock”.
Radiohead, “Street Spirit (Fade Out)” (Temporada 2, episódio 9)
Essa faixa adorada da era The Bends aparece no final da segunda temporada, quando a Natalie adulta morre após ser injetada com fentanil. “Foi uma cena muito difícil e emocional de gravar”, conta Lyle. Para os dois criadores da série, usar uma música do Radiohead “quase parece uma trapaça”, de tão bem que o som da banda traduz a atmosfera de Yellowjackets. “É como um atalho emocional”, explica Lyle. “É uma daquelas músicas que imediatamente te faz sentir algo — e exatamente o que queríamos que o público sentisse naquele momento. Ela tem algo profundamente inquietante”. Eles nem chegaram a testar outras opções. “Era essa, ponto final”. Nickerson completa: “Se você quer criar um momento com um senso de fim, mas que ainda seja cheio de incerteza, vai acabar no Radiohead — porque são eles que sabem como fazer isso”.
Yusuf/Cat Stevens, “Morning Has Broken” (Temporada 3, episódio 1)
Após o incêndio que destrói a cabana do grupo em pleno inverno — encerrando a segunda temporada —, a terceira abre com uma cena serena: as Yellowjackets estão de pé entre cabanas improvisadas, já na primavera, ao som desse clássico folk. “A melodia flui lindamente, e a letra remete à ideia de ‘É um novo dia, sobrevivemos e estamos saboreando a vida’”, diz a supervisora musical Nora Felder.
Nickerson, que dirigiu o episódio, conta que a música “te faz sentir como se estivesse no olho mais bonito de uma tempestade terrível”. Ele e Lyle admitem que esse clássico de Teaser and the Firecat já rondava suas cabeças muito antes da segunda temporada. “Inicialmente, a série se passaria nos anos 1970”, lembra Lyle. “E como sempre criamos playlists imensas pra tudo, fizemos uma só com músicas setentistas. Três faixas principais nela eram ‘Morning Has Broken’, ‘Space Oddity’ e ‘Make Your Own Music’. A gente escutava essas músicas no carro, indo pra reuniões, pra entrar no clima”.
Bush, “Glycerine” (Temporada 3, episódio 1)
A balada devastadora de Gavin Rossdale embala o momento em que as versões adultas de Taissa e Van se beijam após um “dine and dash”. “A levada lenta, o tom nostálgico… tudo nessa faixa é perfeito”, comenta Nickerson. Inicialmente, os criadores da série não tinham certeza se teriam verba suficiente para usar a música do Bush, então pediram aos compositores da série — Craig Wedren e Anna Waronker — que fizessem uma versão.
“Craig e Anna são o coração pulsante da trilha de Yellowjackets”, diz Lyle. “[Mas] conforme a temporada avança, a gente vai entendendo melhor o que pode gastar. E aí percebemos: ‘OK, conseguimos pagar pela original’. Então usamos o cover deles mais adiante na história — e tudo fechou perfeitamente. Foi tipo: a gente teve o bolo e comeu. No fim das contas, descobri que sou fã de Bush. Quem diria?”.
Cass Elliot, “Make Your Own Kind of Music” (Temporada 3, episódio 3)
Alguns críticos foram rápidos em apontar que Lost também usou esse hit de 1969 — o que Lyle admite ter esquecido completamente. “É a mais pura verdade”, diz ela. “Somos grandes fãs de Lost, mas faz anos que não reassisto. E, sinceramente, a gente esqueceu. Eu fiquei tipo: ‘Meu Deus, é a cena da escotilha! Como é que a gente esqueceu disso?’ Mas essa música já estava na nossa playlist há um tempo. A gente ama essa faixa. É tão anos 70. Tão sentimental”.
A canção toca quando Shauna entra na cozinha e flagra sua filha Callie (Sarah Desjardins) dançando com Lottie (Simone Kessell). Para um momento que certamente irritaria a personagem, Lyle garante: “A Shauna com certeza não gosta dessa música — o que a torna perfeita pra cena”.
Eels, “Fresh Blood” (Temporada 3, episódio 4)
Essa faixa, do álbum Hombre Lobo (2009), da banda Eels, embala o momento em que as versões adultas de Van e Tai lidam com o câncer de Van e decidem “testar” a vontade da floresta. “[Elas] querem entender se existe algum sinal que indique que, ao seguir em frente com essa ideia, a floresta vai retribuir de alguma forma, por falta de uma expressão melhor”, explica Felder. “Pra mim, ‘Fresh Blood’ destaca bem essa vontade de quebrar a monotonia de uma situação aparentemente sem saída — como se só uma atitude drástica pudesse transformar aquilo que estão vivendo”.
The Cranberries, “Linger” (Temporada 3, episódio 4)
Esse clássico dos anos 90 toca enquanto Van e Tai, já adultas, fazem um passeio romântico por Nova York. “É simplesmente uma música linda, e a voz da Dolores O’Riordan é incrível”, diz Lyle. “A gente quase nunca consegue ter momentos puramente românticos na série, então tentamos aproveitar ao máximo quando eles surgem”.
PJ Harvey, “Rid of Me” (Temporada 3, episódio 5)
Em uma das cenas mais intensas e brutais da temporada, esse clássico da PJ Harvey toca enquanto a jovem Natalie (Sophie Thatcher) é forçada a cortar o tendão de Aquiles do Coach (Steven Krueger) para impedir que ele fuja. “A entrega visceral e intensa da PJ combina perfeitamente com a violência do momento entre esses dois personagens”, diz Felder. Lyle completa: “Acho que essa está no páreo para ser meu needle drop favorito da temporada. É simplesmente foda demais”.
Low, “Be There” (Temporada 3, episódio 5)
Low já havia aparecido na segunda temporada — na devastadora cena em que o grupo não salva Javi (Luciano Leroux), que se afoga em um lago congelado. Mas a faixa “Be There”, da dupla de “slowcore”, embala uma cena ainda mais comovente nesta temporada, em que a jovem Natalie precisa eutanasiar o Coach. “Natalie é forçada a tomar uma decisão entre salvar ou sacrificar alguém que claramente tem um lugar especial no coração dela”, diz Felder. “Essa foi uma cena difícil porque é longa, precisava transmitir muita coisa — o processo mental dela até esse momento, que já é duro por si só. Era necessário encontrar o equilíbrio certo: não podia ser doce demais, nem sombria demais. Tinha que conter tudo — a tempestade emocional perfeita pela qual ela estava passando”.
Lyle conta que essa cena apresentou a banda Low para Sophie Thatcher. “A Sophie ama música”, ela diz. “E ouve muitas das coisas que eu ouvia na idade dela, mas ainda está descobrindo bastante coisa agora.” Lyle também confessa que perder o personagem de Steven Krueger foi particularmente difícil. “Somos amigos desde o nosso primeiro episódio de The Originals”, ela conta. “Ele é um grande amigo, e foi muito doloroso matar o personagem dele. Passamos muito tempo na sala dos roteiristas pensando: ‘E se a gente não matasse?’ Eu tenho dificuldade de assistir a essa cena. É meio brega dizer que o próprio programa que a gente fez me faz chorar, mas essa cena realmente me emociona. De verdade”.
LohArano, “Bae Nosy” (Temporada 3, episódio 6)
Felder descobriu essa banda pouco conhecida de Madagascar durante um festival de música na França no ano passado. A faixa do grupo toca enquanto o time “homenageia” o Coach — enquanto o devora na floresta — até serem interrompidas pela chegada de estranhos. “[Nosy Be] é uma ilha de Madagascar”, explica Felder. “É impressionante já existir uma banda de metal feminina saindo de Madagascar, mas o mais incrível é que, apesar de todas as dificuldades do país, a música fala sobre amar a sua ilha, o seu lugar de origem. Acho que isso representa o que algumas das personagens estão sentindo. Elas desenvolveram um apego emocional ao lugar, à floresta. No caso delas, de uma forma bem doentia”.
Sugar Ray, “Fly” (Temporada 3, episódio 6)
O hit de 1997 do Sugar Ray é a trilha perfeita para a cena em que três desconhecidos — um guia da floresta vivido por Joel McHale e dois cientistas interpretados por Nelson Franklin e Ashley Sutton — ficam chapados dentro de uma barraca. “A gente conhece esses humanos que não fazem parte da realidade distorcida em que as Yellowjackets estão presas”, diz Felder. “Eles não estão ilhados e estão curtindo a noite, então, pra mim, precisávamos de um hit nesse momento. Algo que tirasse o espectador do caos da floresta e lembrasse: ‘Ah, é verdade. Ainda existem pessoas normais vivendo uma vida aparentemente tranquila, que talvez estejam ouvindo exatamente essa música enquanto relaxam e festejam’”.
Cocteau Twins, “Blood Bitch” (Temporada 3, episódio 7)
É difícil acreditar que só na terceira temporada a série tenha finalmente incluído as lendas do dream-pop, mas o momento chegou: a música do Cocteau Twins embala a cena em que a versão adulta de Shauna chega à casa de Melissa (vivida por Hilary Swank), estacionando do lado de fora com uma faca em mãos. “Jeff Israel é um dos nossos editores”, conta Lyle. “Ele está no time desde o começo. É um nerd da música, como todos nós. E ficou muito empolgado quando escolhemos essa. Então, um salve para o Jeff. Você conseguiu seu Cocteau Twins”.
Oasis, “Wonderwall” (Temporada 3, episódio 8)
No presente, Jeff (Warren Kole) e Callie organizam o quarto de hotel que Shauna abandonou. No passado, o time se despede do acampamento, animado com a ideia de finalmente comer fast food ao chegar em casa. A trilha sonora? Um clássico do Oasis — que, para os fãs atentos, funciona como um ‘easter egg’ cheio de significado: na primeira temporada, a banda foi mencionada no funeral de Rachel, vítima do acidente de avião. “Essa era uma música que sempre esperávamos poder usar mais adiante na série”, diz Nickerson. “A pobre Rachel nunca vai ver o Oasis no Meadowlands ou ouvir ‘Wonderwall’ de novo, como foi dito no velório. Por isso, é a trilha perfeita para o momento em que o grupo se prepara para voltar pra casa”.
Supergrass, “Alright” (Temporada 3, episódio 8)
Essa faixa do britpop embala uma das sequências mais sombriamente engraçadas da temporada: enquanto as Yellowjackets sonham com a vida após o resgate — Slurpees de blueberry, papel higiênico e camas de verdade —, enterram ao mesmo tempo a vítima de um assassinato brutal a machadadas. “Tem algo morbidamente hilário em ouvir um hit ensolarado do Supergrass enquanto as meninas fantasiam com tudo que mais sentem falta de casa — e enterram alguém que foi morto com um machado, naturalmente”, comenta Lyle. “Can’t go mad, ain’t got time!”
Sleater-Kinney, “Dig Me Out” (Temporada 3, episódio 8)
Lyle, fã de longa data do Sleater-Kinney, até fez uma aparição no MTV News quando era adolescente durante um dos primeiros shows da banda. A faixa-título do álbum de 1997 deles toca durante uma cena brutal, na qual Shauna obriga Melissa a comer sua própria carne. “Genevieve Butler, uma das nossas editoras, colocou essa música na primeira versão do episódio como uma surpresa divertida para mim, e fiquei encantada”, diz Lyle. “Na verdade, eu nem consigo acreditar que demorou tanto para usarmos eles na série”.
Radiohead, “Exit Music (For a Film)” (Temporada 3, episódio 9)
A cena em que a adulta Melissa mata Van é realmente um dos momentos mais impactantes da série, e o uso de uma música do Radiohead só intensifica essa virada dramática. Lyle compartilhou que, inicialmente, houve uma resistência em usar outra faixa da banda, já que “não podíamos continuar usando só Radiohead!”, mas depois de tentarem várias alternativas, a equipe chegou à conclusão de que a música de Thom Yorke simplesmente “era a música que queria estar nessa cena”. O impacto emocional dessa faixa ajudou a aumentar ainda mais a tensão e o drama do momento.
Stone Temple Pilots, “Creep” (Temporada 3, episódio 9)
Jeff tem alguns momentos musicais hilários ao longo da série, incluindo uma sessão privada em que ele escuta “Last Resort” do Papa Roach em sua minivan. Lyle e Nickerson se divertem com a ideia, enquanto ele fuma um baseado com sua filha ao som do clássico do Stone Temple Pilots. “Nos divertimos ao longo das últimas temporadas brincando com a playlist de rock dos anos 90 do Jeff, que, sinceramente, até o final desta temporada, parecia ser sua principal forma de catarse emocional”, diz Nickerson. “Jeff definitivamente escuta ‘Creep’ enquanto fica chapado e triste. Com certeza”.
Marianne Faithfull, “Mystery of Love” (Temporada 3, episódio 10)
Para uma cena tão devastadora quanto Tai enterrando Van, Felder escolheu “The Mystery of Love”, uma faixa do álbum Before the Poison de 2003, escrita por PJ Harvey. “Esse é um momento realmente emocionante, que mexe com a alma, em que Tai tem que fazer provavelmente a coisa mais difícil que ela já fez e talvez faça em toda a sua vida”, diz Felder. “‘Mystery of Love’ simplesmente realçou isso perfeitamente. Essa foi uma música que eu tinha no meu pequeno arsenal, esperando o momento certo, e ela apareceu. É como a selva. A imagem vai me dizer o que ela precisa, e aí ela aparece, certo? E foi exatamente o que aconteceu”.
A música foi escolhida antes da morte de Marianne Faithfull, em janeiro. “Isso me deixa ainda mais orgulhoso de que muitas pessoas vão ouvir essa música e, espero, se tornar novos fãs dela e abraçar sua música”, diz Felder. “Obrigado, Marianne, é tudo o que podemos dizer. A música dela é atemporal para mim. Realmente é”.
Aerosmith, “Livin’ on the Edge” (Temporda 3, episódio 10)
O momento final da temporada é o que os fãs estavam ansiosamente esperando desde que o time de futebol de Nova Jersey caiu na selva canadense. A jovem Natalie escapa, rádio consertado em mãos, e sobe ao topo de uma montanha para pedir resgate. E qual música toca nesse momento? O hino dos anos 90 do Aerosmith, “Livin’ on the Edge”, que Lyle e Nickerson queriam usar desde o piloto. “É uma das músicas mais emblemáticas dos anos 90 para mim”, diz Lyle. “Como posso dizer isso sem parecer um idiota? Eu acho que essa música é realmente boa, mas não tenho certeza se a música é boa, se faz sentido. Eu não quero irritar o Aerosmith, mas é uma música ridícula. As letras são intensas. É meio caótica. ‘Chicken Little’ é uma frase que aparece várias vezes. E quando você vê o episódio, nós mergulhamos de cabeça. Queríamos levar isso ao máximo naquele momento, da maior forma possível. Eles estão subindo o volume até o 11. E eu adoro isso”.
Este texto foi originalmente publicado pela Rolling Stone EUA e pode ser lido em inglês aqui.
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