NX Zero
Sete Chaves
Arsenal Music
Terceiro disco é correto e previsível, sem surpresas – por isso mesmo deve agradar aos fãs
A capa e o encarte, escuros e sombrios, e a única imagem da banda impressa no terceiro CD da discografia mainstream do NX Zero deixam a impressão de que há algo reflexivo no ar. Mesmo que “certas coisas não têm (sic) sentido nem razão para acontecer”, como canta Di Ferrero em “Zerar e Recomeçar”, vale a pensata: se 2007 e 2008 foram os anos do NX Zero, levando-se em consideração a execução nas rádios, o crescimento-monstro de fã-clubes, a agenda lotada de shows, a repercussão na mídia e os questionáveis prêmios televisivos, 2009 viu a banda passando o posto de fenômeno-revelação adolescente de uma espécie de hardcore light,para grupos, em todos os sentidos, menores, sem expressão artística, como Strike ou Cine. Sem contar a existência do Fresno, de alto poder de composição, e a chegada de gringos bem marketeados, como os Jonas Brothers ou Demi Lovato. O NX Zero, com a experiência da estrada, não é mais a banda dos garotos com cara de bebê do clipe de “Apenas um Olhar”. Eles ganharam marcas do tempo e se desenvolveram na difícil arte da composição popular. Mas parecem ter optado por soarem menos Bad Religion (uma hipotética referência) e mais Fábio Junior (talvez, uma real referência da produção). Sete Chaves abre com “Vertigem”,vinheta que alerta para o clima denso de “Só Rezo”, uma paulada de bonita ponte melódica- melancólica contrastando com o peso do resto da música. As guitarras soam altas, à frente. Apesar de ser uma espécie de incursão tardia do NX Zero ao já velho nu metal, é um sopro de vigor criativo, vocal e instrumental, que não se repete, mais por aparente opção que por falta de talento. “Espero A Minha Vez” é a seguinte. Melodia açucarada e piano, orquestra e solos de guitarra a la Bryan Adams dissipam qualquer questionamento: não há ousadia. O que leva a outras questões: quem ouve NX Zero precisa de ousadia? Atingir todos os públicos do Brasilzão é a meta? O país precisa de outros Robertos ou de mais Erasmos? Esta é a banda que regravou “Apenas Mais Uma de Amor” (Lulu Santos), sem assassiná-la, e escreveu “Cartas Pra Você”. Mas a impressão é que a produção, e a direção artística e de repertório, sempre a cargo do ubíquo Rick Bonadio, transformam a energia de rapazes roqueiros em uma usina geradora de baladas de violão e piano sem assinatura. Com algumas adequações, estas canções poderiam ser de qualquer outro artista popular. Isso é mérito? As escolhas das primeiras músicas de trabalho do disco anterior (Agora, 2006, a faixa “Cedo ou Tarde”) e deste (“Espero A Minha Vez”) demonstram que prevalece a opção pelas composições de menor brilho criativo, mas forte apelo emocional. Seguem-se “Insubstituível”, que tem mais a ver com o NX Zero (rock leve, melodia bonita e letra sobre fim de romance), e “Zerar e Recomeçar”, uma das únicas que não são assinadas somente pela dupla Gee Rocha (guitarrista) e Di Ferrero (o guitarrista Fi Ricardo também compôs esta). Neste contexto de arriscar ou se manter na retranca, a frase “Nós temos tempo para errar”, de “Tudo Em Seu Lugar”, que no refrão lembra Richard Ashcroft, soa verdadeira. Eles têm tempo e crédito para tentativas e erros, mas têm vontade? “Mais Além”, uma balada que tem o ápice em um rock orquestrado, diz: “Eu iria mais além se pudesse / Meu limite é aqui / Infelizmente”. Impossível, mesmo fora do contexto, não interpretar como um pedido de liberdade. “Confidencial”, “Perto de Você (Roots)” e “Vício” (esta com introdução com as pentatônicas que caracterizam o Iron Maiden e um solo de guitarra nervoso), trazem um pouco mais de peso e velocidade. Nas mais rápidas se destaca o baterista Dani Weksler, de pegada firme e segura. “Como se Fosse Ontem” (também composta por Fi Ricardo) é outra que traz de volta o NX Zero mais hardcore light, menos Fábio Junior. O disco fecha com “Sem Saída”, a única assinada por toda a banda (que inclui ainda o baixista Caco Grandino). Agora, resta ao grupo e aos fãs aceitar (enfrentar?) a certeza que o disco oferece: o NX Zero optou pela zona de conforto. E se uma banda formada por homens de 23 e 24 anos não arrisca, quem vai fazêlo? (A única transgressão do rock mainstream brasileiro em 2009 veio de Rita Lee, a vovó que no Prêmio Multishow, ao lado da linda netinha, disse, com o troféu malfeito na mão: “Minha parte eu quero em dinheiro”. A rainha é do tipo que diz verdades inteiras em meias brincadeiras.) Usando um belo ícone muito conhecido pelos verdadeiros fãs do NX Zero, a banda soa em Sete Chaves como uma granada alada: apesar da beleza e do poder da versão com asas, e da opção segura de não alçar voos mais altos e, uma granada foi feita pra explodir e se fragmentar para todos os lados, não para voar baixo, controlada.
POR RICARDO FRANCA CRUZ