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Alice

Alice Caymmi

Bruna Veloso Publicado em 24/02/2018, às 15h05 - Atualizado às 15h16

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Alice - Reprodução
Alice - Reprodução

Alice Caymmi decidiu batizar o terceiro álbum da carreira apenas com o primeiro nome, em um passo que indica o reforço de sua imagem como cantora e compositora autossuficiente, e não como herdeira musical da família Caymmi. Aqui, ela confirma o olhar autêntico que tem sobre o próprio trabalho, desde a escolha das parcerias até a produção, comandada por Barbara Ohana. Em uma mistura equilibrada de R&B e pop, passando por sons orquestrais, piano e bons temperos de metais, Alice, o disco, é um conjunto de canções maduro, conciso e bastante representativo da sabedoria da artista em relação ao poder que tem dentro de seu ofício.

“Spiritual”, que abre o álbum, chega aclimatando o ouvinte a uma voz grandiloquente, em meio a vocais sobrepostos em coro. A surpresa do trabalho vem, porém, em seguida: “A Estação”, composição de Carlos Rufino, responsável por “Verdade”, clássico na voz de Zeca Pagodinho. Emotiva e ambientada em um casamento perfeito de cordas e piano, a faixa se encaixa em um canto mais suavizado de Alice. “Suavizado” não significa menos poderoso: as cordas vocais dela sempre entregam algo muscular, intenso.

“A Estação” é uma música de entrega e amor. Em contraponto, “Sozinha” (composição de Rodrigo Gorky, Pablo Bispo e Arthur Marques) é quase a contramão, uma declaração de autonomia. Juntas, essas duas faixas, tão diferentes em termos de sentimentos, simbolizam algo que o disco parece transparecer: para ser verdadeiro consigo, é preciso por vezes aceitar que a ideia de um “eu” único e imutável é relativa, para não dizer estapafúrdia.

O primeiro single, “Inocente” (lançado em 2017), parceria de composição com Ana Carolina, traz as dores da perda de um relacionamento, com uma batida de R&B mais despida. Em termos de crueza sonora, contudo, a maior representante é “Agora”, versão quase inteiramente ao piano de “Ancora, Ancora, Ancora”, criada pelo maestro Cristiano Malgioglio e conhecida na voz da cantora italiana Mina. Não se faz necessária comparação aos parentes famosos de Alice, porém, para efeitos descritivos, é possível aqui sentir a dramaticidade e o vigor pelo qual os familiares são conhecidos.

Há ainda parcerias com Rincon Sapiência (“Inimigos”) e Pabllo Vittar (“Eu Te Avisei”), que fecha o disco. Na primeira com tom de rap e na segunda mergulhada no pop, Alice comprova a variedade de estilos pelos quais navegar sem nunca deixar de soar legítima.

Fonte: Universal