Ana Cañas
Hein?
Sony/BMG
Em meio a faixas com muito groove, a cantora mostra um lado menos contido
Poucos comentam, mas muitos passaram por uma espécie de síndrome do segundo álbum, que afeta bandas e artistas com alterações de humor, bloqueios de criatividade e outros sintomas que jogam contra a superação do trabalho de estreia. “Hein?”, retruca Ana Cañas no título de seu novo disco. A cantora e compositora paulistana passou batido por tais mazelas. Embora o processo criativo tenha sido mais estudado do que em Amor & Caos (seu primeiro CD, de 2007), Hein? é relaxadamente mais barulhento e despreocupadamente mais provocador. A série de shows que se seguiu desde seu début fonográfico aproximou-a do rock e de algumas figuras que fizeram a história do gênero por aqui. Hein? teve a produção mais que competente de Liminha e a primeira faixa, “Na Multidão”, convoca Arnaldo Antunes. A cantora guardou o improviso elaborado do jazz para alegadamente se jogar no rock. Porém, não espere simplicidade. “Gira”, a faixa mais transponível para o hard rock, é muito mais rica que o estilo. Tampouco “Esconderijo” ou “A Menina e o Cachorro”, com um calmo baixo à frente, se enquadram na antiga e tradicional MPB. Com a ajuda de ótimos arranjos, gravados praticamente ao vivo, Ana Cañas consegue filtrar e novamente fundir gêneros distintos a seu bel prazer.
POR JOSÉ JULIO DO ESPIRITO SANTO