Jack White
Mesmo com o pé nas raízes do rock, White permanece contemporâneo
Ouvir Blunderbuss é como assistir a um daqueles programas de antiguidade da TV paga: você até acredita nas preciosidades encontradas pelos apresentadores, mas sempre fica pensando se elas estavam mesmo jogadas em um quintal qualquer. Aqui, claro, as “velharias” são as referências musicais de Jack White. Se no White Stripes o pulso vinha do blues, aqui ele vem do pré-rock (como na versão de “I’m Shaking”, de Rudy Toombs), do country (mais radiofônico na faixa-título, mais ligado às raízes do estilo em “I Guess I Should Go to Sleep”), valsa (é sério: escute a primeira parte de “Take Me with You When You Go”) e até de um progressivo mestiço (“On and On and On”). Fãs do guitarrista White – que neste disco opta por passar a maior parte do tempo no violão, baixo ou piano – podem ser saciados com as explosões roqueiras de “Sixteen Saltines”, “Freedom at 21” e “Missing Pieces”. Passado o susto estéticomusical, Blunderbuss também tem as letras mais rebuscadas da carreira de White. Em “Love Interruption”, ele canta desesperadamente sobre o amor, condenando- o e louvando-o simultaneamente; em “Hypocritical Kiss”, a narrativa passa de masculina para feminina no meio da canção, brincando com os dois lados que debatem um relacionamento; “Hip (Eponymous) Poor Boy” critica grupos indie que “pasteurizam” o blues (como o próprio White Stripes); e “Weep Themselves to Sleep” e “Trash Tongue Talker” cospem palavras de forma violenta no ouvinte. O mais impressionante é ver Jack White juntar uma quantidade assustadora de referências e estilos musicais sem, nem por um segundo, soar arrogante. Isso, sim, é um talento raro no rock contemporâneo.
Fonte: Third Man Records/Sony