Cidadão Instigado
Uhuuu!
Independente
Do brega ao experimentalismo, uma viagem repleta de atrativos
“Abram as portas das suas casas, deixem os ladrões entrarem, eles vão tentar levar tudo o que puderem”, instiga Fernando Catatau, cabeça pensante do Cidadão Instigado, em “O Nada”, faixa que abre de forma envolvente e filosófica o terceiro álbum de um dos grupos independentes brasileiros mais celebrados da década. Uhuuu! parte da musicalidade do festejado E o Método Túfo de Experiências (2005) em direção a uma sonoridade mais direta e orgânica sem deixar de lado as principais características do grupo, um caldeirão fervilhante movido a rock psicodélico e música brega, como se Odair José integrasse por um fim de semana o Pink Floyd, reducionismo que se esforça, mas ainda não consegue definir a beleza de “Como as Luzes”, com tecladão espacial e letra comovente, da orgia instrumental da extensa “Escolher pra Quê?” (de quase sete minutos de duração), com solos de guitarra e timbragem retrô, do mix funk arrasador de “Doido”, com batidas e teclados que lembram algo de Franz Ferdinand e trazem ao cabo Arnaldo Antunes declamando maluquices, da explosão espacial “A Radiação na Terra” (Caetano fase Araçá Azul movido a guitarradas) e da conclusão poética “Deus É uma Viagem”. Entre a revolta solitária e a tristeza semi-hippie, o Cidadão Instigado crava outro álbum fenomenal, candidato a um dos melhores do ano.
POR MARCELO COSTA