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Condição Humana (Sobre o Tempo)

Guilherme Arantes

Paulo Cavalcanti Publicado em 12/04/2013, às 13h25 - Atualizado às 13h32

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Em nova fase artística, o ativo compositor não perdeu o inconfundível toque melódico

Um dos mais desgastados clichês no mercado musical é a “redescoberta” de determinado artista de décadas passadas. Isto é especialmente injusto quando o “redescoberto” em questão continua na ativa, firme e produtivo. Guilherme Arantes, um dos grandes hitmakers dos anos 70 e 80, vem se mantendo alheio a modismos e ao circo da mídia, mas segue fazendo shows lotados. No Coaxo do Sapo, estúdio e produtora que montou na Bahia, onde vive há quase 15 anos, ele produz e incentiva novos artistas. Nesse tempo, ganhou a admiração de músicos independentes de São Paulo, foi alvo de tributos fonográficos que resgatavam hits e obscuridades injustamente esquecidos e foi até reverenciado por Mano Brown, um fã improvável. O nome de Guilherme Arantes continuava ventilando. Só faltava algo na equação: ele dar as caras.

O músico não lançava nada novo desde o mal divulgado Lótus (2007). Condição Humana traz o Guilherme Arantes de que todos sentiam saudade, melódico e romântico, mas agora com uma certa urgência. Cantor e pianista, ele pôde desfrutar da liberdade que adquiriu. Como confessa, nada melhor do que não se dobrar aos desejos de produtores e gravadoras. Ao lado de sua banda, que conta com gente experiente como Luiz Sergio Carlini (guitarra), Willy Verdaguer (baixo), Alexandre Blanc (guitarra) e Gabriel Frejat Martini (bateria e percussão), Arantes finca a bandeira dos bons tempos do pop adulto, com o melhor da subestimada produção que se fazia na virada dos anos 70 para os 80, e ainda acrescenta uma pitada de rock progressivo. Mas não se engane: os teclados do dono do disco continuam sustentando a base melódica. A produção e a sonoridade sofisticada de Condição Humana são prova do incontestável domínio de estúdio de Arantes. Em tempos em que tudo é tosco e desleixado, ouvir um disco assim em pleno 2013 é acachapante. O subtítulo, Sobre o Tempo, é pertinente: ele medita sobre tudo o que passou e pensa no que ainda vem pela frente.

Guilherme Arantes é um eterno otimista e humanista, embora ligeiramente melancólico. As letras podem parecer meio ingênuas, mas soam sinceras. Na faixa-título, o autor dialoga que precisamos de um mundo menos estressado. Já “Onde Estava Você (Quando o Mundo me Esqueceu)”, que parece ser um recado do músico a amigos e referências que por um motivo ou outro ficaram para trás, tem um coro superstar, com a participação de Alexandre Kassin, Adriano Cintra, Edgard Scandurra, Marcelo Jeneci, Thiago Pethit, Tiê, Tulipa Ruiz e outros. Nem dá para perceber as vozes individuais – mas a canção é importante para reforçar a moral e a credibilidade que Arantes tem entre os músicos da nova geração. “Moldura do Quadro Roubado” é o momento de protesto do disco, em que o cantor entoa: “Mil promessas de eleição/A favela, então, cresceu, explodiu”. Marcelo Jeneci, um dos mais óbvios discípulos de Guilherme Arantes, canta com o mestre em “O Que Se Leva” e ainda edulcora a melodia com a sanfona. “Oceano de Amor”, uma das mais românticas e com jeitão para tocar em rádio, tem um marcante violino executado por Cassio Poletto. Há muito a se descobrir na obra de Guilherme Arantes e Condição Humana vem se juntar a esse ilustre catálogo.

Fonte: Coaxo do Sapo/Tratore