Edi Rock
Apesar do foco geralmente ficar em Mano Brown, o vocalista e letrista Edi Rock também é peça-chave no Racionais MC’s. Em 1999, ele lançou o primeiro trabalho solo, homônimo, mas o disco ficou represado no universo dos conhecedores do rap. Agora, Contra Nós Ninguém Será chega para traçar um caminho diferente. O rap serve para aglutinar diversas referências e artistas da música brasileira. O álbum foi gravado e produzido sem muita pressa, por cerca de dois anos e meio. Nesse período, ideias foram mudando, prazos se alongando e artistas somando forças ao projeto. No final, as 12 faixas previstas se transformaram em 23, que trazem mais de 40 músicos participantes. Antes mesmo de a ideia do CD solo ganhar forma, em 2008, uma das faixas que está neste trabalho apareceu para o grande público. Na época, “Tá na Chuva” foi erroneamente creditada ao Racionais MC’s, o que aumentou a expectativa por um novo trabalho do grupo – que não lança um disco de inéditas desde 2001. Na faixa, que tem KL Jay nos beats, Edi dialoga com Ice Blue sobre a vida no crime.
Bem depois disso, já em abril de 2012, oficialmente, veio a faixa que podemos chamar como “de trabalho”: “That’s My Way”. Com participação de Seu Jorge e Leon Mobley (percussionista do Damian Marley), o rap se fundia com a soul music. A letra, além do protesto, trazia um discurso de esperança. Mais fusões apareceram. Em “Abram-Se os Caminhos”, Falcão (O Rappa) e Alexandre (Natiruts) se juntam a Edi pedindo a união entre o pessoal do rap e os “vida loka” – como é chamada a molecada marginalizada da periferia de São Paulo. O resultado é um reggae com rimas fortes e discurso afiado. Uma das grandes surpresas é a participação de Marina de la Riva em “Voltarei para Você”, um eletrotango à la Gotan Project sobre um amor bandido. O contraste entre o grave de Edi e a bela voz de Marina enriquece o resultado final. Aliás, no quesito voz, a faixa “Eu Canto Up Soul” traz a combinação entre duas das mais belas vozes do rap e da música nacional: Rael e Flora Matos brilham neste poderoso raggamuffin de fazer o mais duro dos ouvintes se mexer.
Entre as músicas enquadradas no estilo mais tradicional do rap, se destacam “Cava Cava”, tensa, com Dom Pixote e Emicida, “Estrela de David”, com um ótimo sampler de “Bom Senso”, do Tim Maia, e “Na Rota da Ambição”, com DBS e Tulio Dek. O R&B brasileiro também está bem representado nas vozes de Karin Hills e Vanessa Jackson, em, respectivamente, “Última Missão” e “Final Feliz”. E, claro, Mano Brown não poderia ficar de fora: está na ótima “Homem Invisível”, junto com Helião e Lino Krizz. O refrão, não tão valorizado pelas extensas letras do rap, aparece forte na já citada “That’s My Way”, empolgante em “Você Não Pode Se Enganar” (com Sandrão e Nego Jam) e bem pesado nos tons graves em “Liberdade Não Tem Preço” (com Dexter). Edi Rock quer ganhar público e sair das armadilhas que fazem com que muitos rappers se fechem no próprio universo. Dá para fazer rap sem falar só das misérias e sem cantar sobre uma batida seca e pobre. Em Contra nós Ninguém Será, ele prova que o estilo pode ganhar corpo, misturas, tons e vozes diferentes e, ainda assim, continuar sendo a boa e velha música de protesto.
Fonte: Baguá Records