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Cruzamento de Timbres e Sons

Redação Publicado em 05/01/2010, às 19h02 - Atualizado às 19h02

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Lulu Santos, Singular - GUTO COSTA/ DIVULGAÇÃO
Lulu Santos, Singular - GUTO COSTA/ DIVULGAÇÃO

Lulu Santos

Singular

EMI

Eletrônica e samba continuam na pauta do artista

Há 15 anos, quando Lulu Santos inaugurou a fase mais dance de sua carreira trabalhando com o DJ Memê em três álbuns lançados em anos consecutivos: Assim Caminha a Humanidade, Eu e Memê, Memê e Eu e Anticiclone Tropical, o cantor e compositor carioca fez mais do que revitalizar seu repertório de baladas pop rock. Mesmo sem se desvencilhar de sua fórmula própria, ele se familiarizou cada vez mais com timbres da eletrônica. Singular, 22º álbum do artista, sem contar as muitas coletâneas, traz uma amálgama mais complexa, em que o samba também tem um peso forte. O disco leva adiante, e com mais ousadia, a trilha de Longplay, o álbum anterior, de 2007. Ele repete a parceria com o tecladista Hiroshi Mizutani na produção e nos arranjos e troca a bateria convencional por programações. O álbum abre com “SpyderMonkey”, uma faixa instrumental, como se fosse um samba de Sérgio Mendes em versão IDM. E fecha de maneira não menos peculiar– “Restinga”, também instrumental, tem uma percussão de samba acompanhando guitarras cheias de efeitos. Entre elas, faixas em que Lulu Santos deturpa baladas com arranjos estranhos à velha receita. Muitas vezes acerta, como na faixa-título, que chega sorrateira e simpática, usando uma lógica de Lewis Carroll para narrar imagens passando como em um carrossel.Ou na torta “Atropelada”, que Lulu declama com pressa, como se cantasse na estrada, subindo, descendo e tentando manter o tom. Quando ele apela ao samba, a estranheza aumenta e melhora. Se em Longplay, Lulu tinha transformado “Deixa Isso pra Lá” (hit supremo na voz de Jair Rodrigues), agora ele subverte “Zazueira”, de Jorge Ben, com um arranjo absurdo. O novo álbum pode não agradar aos antigos fãs de Lulu Santos, que vão achar as faixas modernosas demais e talvez ele viva para sempre com o carma dos antigos sucessos. Pelo menos, ele ainda tenta ser o que seu título informa – singular.

Por José Julio do Espírito Santo