De Todas as Maneiras

Chico Buarque

Mauro Ferreira

Publicado em 13/09/2012, às 09h44 - Atualizado às 09h49
Chico Buarque
Chico Buarque

Caixa com 21 discos e álbum duplo ao vivo desvendam momentos distintos do compositor

A engenharia requintada da letra e música de “Pedro Pedreiro” sinalizou em 1965 o início da solidez da obra de Chico Buarque, agora condensada em uma caixa que embala os 21 álbuns lançados pelo cantor e compositor entre 1966 e 1986 pelas extintas gravadoras RGE, Philips e Ariola. A simultaneidade da edição de De Todas as Maneiras com a chegada às lojas do disco duplo ao vivo Na Carreira, que registra na íntegra o show Chico, reforça a tese de que o mestre nunca descansou em serviço, assentando novas pedras harmónicas a cada lançamento. De qualquer maneira, a liga de Chico com o Brasil era mais forte na época desses álbuns, encaixotados com a mesma eficiente remasterização da coleção de 2006 que repôs em catálogo de forma avulsa 17 dos 21 títulos atuais – os mesmos 21 discos que já haviam sido embalados em 2001 na caixa Construção.

Para amenizar a redundância entre as sucessivas reedições da obra singular, De Todas as Maneiras apresenta Umas e Outras, coletânea tripla que reúne 37 gravações avulsas do artista, feitas para compactos e discos de colegas. Dispostos em ordem cronológica, os fonogramas têm como chamariz registro inédito de “Jorge Maravilha”, sobra de estúdio do álbum Sinal Fechado (1974). Neste take até então perdido nos arquivos da gravadora Universal, Chico canta o tema em tom mais lento, com o suingue da era do samba-rock e o vigoroso registro vocal que destilava ironia no discutido refrão “Você não gosta de mim / Mas sua filha gosta”. Compositor que sofreu censura, mas nunca teve medo de resistir a ela, Chico tinha gravado “Jorge Maravilha” em 1973, em gravação ao vivo omitida na seleção de raridades feita pelo jornalista Cleodon Coelho, assim como o emblemático registro original de “Apesar de Você”. Propagado em 1970, o compacto logo foi recolhido das lojas quando a censura atentou que o destinatário do samba era o governo de Emílio Garrastazu Médici (1905 - 1985), o general que comandava o Brasil do “Ame-o ou deixe-o” com a mão de ferro da ditadura tão combatida por Chico.

Entre encontros com cantores contemporâneos como Fagner, Milton Nascimento e Nara Leão (1942 - 1989), a coletânea ainda expõe a liberdade estética de obra que endureceu sem perder o lirismo, a nostalgia, a melancolia amorosa e as influências de Noel Rosa, estas mais perceptíveis nos sambas dos três volumes dos álbuns intitulados Chico Buarque de Hollanda. Foi o Chico Buarque de Hollanda nº 4, de 1970, que começou a fazer a transição para a contundência que norteou discos como Construção (1971) e Calabar (1973), alvos da censura pelo conteúdo corrosivo do repertório. Sem perder o foco político, Meus Caros Amigos (1976) sedimentou a parceria com Francis Hime, conexão que duraria até Chico Buarque (1984), que botou o bloco na rua com o samba-enredo “Vai Passar”. Três anos antes, Almanaque (1981) descortinou a parceria teatral com Edu Lobo.

Fonte: Universal

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