Lenine
Uma ode ao processo, ao fazer, ao caminho — essa é a proposta de Em Trânsito. O novo disco de Lenine mescla passado e presente (com seis canções novas no repertório do cantor mais cinco de álbuns anteriores) e bagunça a lógica de que primeiro se deve lançar um álbum de estúdio para depois registrá-lo em formato audiovisual no palco. Em Trânsito foi gravado ao vivo no Rio de Janeiro, em um show em fevereiro, e juntamente a CD e vinil (ambos com dez faixas mais uma escondida), dá origem a um DVD (21 faixas) e a uma turnê, que também se inicia esse mês. Como costuma fazer, Lenine surpreende, desta vez começando um projeto musical pelo que geralmente é sua etapa final.
Bruno Giorgi tem posição de destaque, neste que é o terceiro disco em que atua ao lado do pai. Giorgi é um produtor de mão-cheia e, além de fazer parte da banda de Lenine, cuidou da direção musical de Em Trânsito. É, aliás, mais um projeto “família”: Anna Barroso, esposa do pernambucano, é uma das responsáveis pela concepção do espetáculo, enquanto o filho João Cavalcanti (ex-Casuarina) assina o release do projeto e é parceiro de composição em “Bicho Saudade”, a mais bela entre as inéditas.
Ao longo de mais de 35 anos de carreira, Lenine passou de cantautor identificado com o violão para artista sempre preocupado em se atualizar, conhecendo e incorporando novas referências. As canções já conhecidas (“Virou Areia”, “De Onde Vem a Canção”, “Lá Vem a Cidade”, “Umbigo” e “Castanho”) são apresentadas com um frescor inquestionável, algo que tem muito de Giorgi e das guitarras cada vez mais singulares de JR Tostoi. O baterista Pantico Rocha e o baixista Guila fazem uma cama segura, porém jamais básica.
As novas canções apresentam o habitual cuidado com a arte da escrita. “Leve e Suave” diz a que veio já no nome, com apenas dois minutos de duração e uma guitarra dedilhada envolta em calmaria — que é cortada logo em seguida pela também inédita “Sublinhe e Revele”, de guitarras sujas. Mas, graças a um convidado especial, a música mais surpreendente é a mais singela: “Lua Candeia”, com o tocante e belo piano de Amaro Freitas. Em Trânsito pode não ter o peso de um álbum completo de inéditas, mas confirma a sede de Lenine de atuar em projetos cada vez mais complexos e inovadores. E isso vale mais que um disco convencional.
Fonte: Universal