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Era Domingo

Zeca Baleiro

José Flávio Junior Publicado em 16/05/2016, às 21h21 - Atualizado em 18/05/2016, às 19h32

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Era Domingo
Era Domingo

Aos 50 anos de idade e quase 20 de carreira, Zeca Baleiro chega ao décimo álbum de estúdio com um cenário a seu favor dentre os astros da MPB que se consolidaram a partir do final da década de 1990. Enquanto Chico César fraciona seu tempo entre a música e a atuação política (inclusive assumindo cargos públicos) e Moska investe em conexões latinas e na faceta de apresentador de tevê, Baleiro demonstra enorme satisfação em dar prazer sonoro à sua audiência cativa e sempre crescente.

A tática para permanecer excitado e excitando após esse tempo de estrada passou por montar o próprio universo criativo, com direito a um selo para lançar discos alternativos (seus e de outros artistas), e pela aposta em um processo de gravação incapaz de deixá-lo entediado. Em Era Domingo, Baleiro repete o expediente inusitado de O Disco do Ano (2012) e entrega cada faixa do álbum para um produtor diferente. Como seus registros são quase sempre plurais em ritmos e linguagens, a opção acaba contribuindo para a multiplicidade estética almejada. Cada faixa foi programada para soar diferente da anterior, e ele consegue isso.

Do time de produtores fazem parte os músicos titulares da banda-base de Baleiro (o guitarrista Tuco Marcondes encarrega-se da faixa-título e primeiro single; o tecladista Adriano Magoo cuida do excelente jazz cigano “Ultimamente Nada”), outros músicos que já passaram pela trupe dele (Érico Theobaldo, hoje tocando no Aldo, assina “Desesperança”) e novos colaboradores. Em uma das canções mais poderosas de Era Domingo, “Homem Só”, Marcelo Lobato traz seu know-how d’O Rappa para ajudar Baleiro a narrar a angústia de um cidadão que se sente “a multidão sem alma multiplicando multidões”, como diz o refrão (reforçado pela belíssima voz de Ellen Oléria). Já em “Deserta”, parceria com o congolês Lokua Kanza, quem assume os botões é a dupla sônica do Skank: o tecladista, Henrique Portugal, e o baterista, Haroldo Ferretti.

Mesmo soando menos galhofeiro do que em registros anteriores, Baleiro ainda tem muito bom humor para dar. Quando vai nessa linha “alto-astral quase zoeira”, como no ska “Ela Parou no Sinal”, entrega a fórmula mágica do vigor. O mundo se divide e se digladia lá fora, mas Baleiro não perde a predisposição para gozar. Parafraseando o refrão da meio surf music, meio western “Desejo de Matar” (que cita até Charles Bronson, ator da franquia cinematográfica que dá nome à canção), o ouvinte cai feito um pato em seu papo sonso. E cai extasiado.

Fonte: Som Livre