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Erasmo Carlos - Rock 'N' Roll

Redação Publicado em 10/07/2009, às 14h18 - Atualizado em 15/07/2009, às 13h03

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ILUSTRAÇÃO: EDUARDO NUNES
ILUSTRAÇÃO: EDUARDO NUNES

Erasmo Carlos

Rock ’N’ Roll

Coqueiro Verde

O Tremendão Celebra o Rock, as mulheres, a diversão sem cair na mera nostalgia

Neste ano de 2009, Roberto Carlos está celebrando oficialmente 50 anos de carreira, mas quem vem ganhando acoladas e simpatia geral é Erasmo Carlos. Roberto se tornou solene, uma figura distante que, por meio de atitudes duvidosas e uma série de equívocos artísticos, parece mais interessado em apagar seu enorme legado e relevância. Erasmo, cada vez mais afastado musicalmente e ideologicamente do antigo parceiro, reforça seu lado lúdico, acessível, humano e, é claro, roqueiro. É neste espírito que chega Rock ’N’ Roll, seu novo disco de estúdio, o primeiro de inéditas desde Santa Música (2004). No meio disso, houve o burocrático Erasmo Convida 2 (2007), em que o Tremendão requentou o repertório velho de guerra e chamou algumas figurinhas carimbadas para acompanhá-lo. Depois disso, poucos esperavam que Erasmo ressurgisse tão rapidamente e ainda por cima com um trabalho tão honesto e agradável, retrato musical de um senhor que está beirando os 70 anos e que não deixou de lado o que aprendeu há meio século com a turma que deu o pontapé inicial no rock and roll. Assim como aconteceu em Santa Música, aqui não tem nenhuma parceria de Erasmo com Roberto, o que a esta altura talvez seja uma bênção. Erasmo é o autor solitário de cinco faixas, em outras ele contou com a mãozinha de Nando Reis, Chico Amaral, Nelson Motta e até do produtor Liminha. O blues rock “Jogo Sujo” abre os trabalhos com as guitarras ardidas tocadas por Liminha. Erasmo aqui declara seus propósitos: mesmo com as possíveis rasteiras que levou da vida, está aí firme e mandando ver. Em seguida, vem “Cover de Mim”, a canção mais emblemática de Rock ’N’ Roll. Nesse country rock pontuado pela slide guitar, Erasmo fala que nestes anos todos rodou o Brasil inteiro e viu covers de todo mundo, menos dele! E, devido a essa condição, ele assume que é cover dele mesmo. E pensar que Roberto uma vez teve um disco chamado O Inimitável! A primeira balada do disco é “Chuva Ácida”, parceria de Erasmo e Nelson Motta. Essa é bem retrô, com puro sabor de Jovem Guarda. O clima suave e acústico segue com “Olhar de Mangá”, em que Erasmo fala das mulheres que possuem olhos grandes, assim como nos quadrinhos japoneses. Duas parcerias com Chico Amaral vêm na sequência: “Noite Perfeita” e “A Guitarra É Uma Mulher”, canções agitadas que associam o rock a noitadas, diversão, farra e mulheres. Nesta última, a guitarra de Billy Brandão salva uma canção apenas mediana. Apenas razoáveis também são as parcerias de Erasmo com Nando Reis. “Um Beijo É Um Tiro” e “Mar Vermelho” carecem de um melhor cabamento melódico, mais parecendo ideias não aproveitadas anteriormente e que foram costuradas em cima da hora. Não resistem a uma segunda ou terceira audição. Tudo melhora com a reflexiva e bluesy “Vozes da Solidão”, mais uma digressão de Erasmo sobre dias ruins que passaram, mas felizmente ficaram para trás. A nostálgica e cuca fresca “Noturno Carioca”, de Erasmo e Nelson Motta, é levada por um uquelele executado por Liminha. O Erasmo brincalhão encerra o disco com o ska “Celebridade”, dele e de Liminha, um comentário bem-humorado sobre estes tempos em que as ilusões, as aparências e os modismos parecem falar mais alto. João Barone toca bateria e a música ainda conta com um naipe de metais. A unidade sonora da banda que Erasmo recrutou também é um fator importante para o disco. E sem dúvida o herói anônimo de Rock ’N’ Roll é Liminha. Sua produção é exemplar e ele colocou a mão na massa, tocando guitarra, baixo e o já citado uquelele. O resto da turma conta com Dadi também na guitarra e no baixo, Cesinha na bateria e Alex Veley nos teclados. Pedro Dias e Luiz Lopez, que fazem parte da banda Filhos de Judith, tomam conta dos vocais de apoio. Fim de papo: este Rock ’N’ Roll junta num balaio o Erasmo roqueiro, o romântico, o piadista, o nostálgico e até consegue soar contemporâneo.

POR PAULO CAVALCANTI