Gotye
Músico abraça a fórmula da inconstância e consegue atingir mercado universal
Bastava um hit para que o belga/australiano Gotye chegasse aos Estados Unidos e dali se tornasse conhecido em outros países. Demorou (Making Mirrors é o terceiro disco dele, sendo que o primeiro é de 2003), mas valeu a pena: “Somebody that I Used to Know”, o sucesso em questão, é boa ao ponto de fazer você ir a um show apenas para ouvi-la ao vivo. Com um sample de “Seville”, gravação do brasileiro Luiz Bonfá, Gotye (ou Wally de Backer, apelido e sobrenome verdadeiro do cantor e compositor) canta de forma tão intensa o sentimento de rejeição que dá para sentir o ressentimento pingando nos vocais dele e de sua parceira na canção, a neozelandesa Kimbra. Mas essa é apenas uma das 11 boas faixas do álbum (mais uma vinheta, a homônima que abre o trabalho). Gotye abraça diversos géneros e influências de forma ampla, mas consciente: há rock dançante (“Easy Way Out”), dub (“State of the Art”, na qual ele declara amor ao seu órgão Cotillion e brada: “essas incríveis simulações acabam soando melhor que o verdadeiro”), um épico pop (“Eyes Wide Open”) e até uma canção de ninar pós-moderna (“Bronte”). Apaixonado por ferramentas eletrônicas de composição, Gotye busca o inusitado para criar, seja coletando sons ambientes, seja buscando artistas desconhecidos para seus samples. Ele é a favor de qualquer estratégia que permita que o artista não repita a forma de usar um instrumento ou um software. Do começo ao fim de Making Mirrors, Gotye surpreende faixa após faixa, em um dos mais gratos lançamentos dos últimos tempos.
Fonte: Universal