Muse
The Resistance
Warner
Britânicos propõem uma viagem sonora estranha, caótica e recompensadora
Paranoia é um estado de graça. Não existe sentimento mais sereno que achar a verdade por baixo da superfície, mesmo sendo ela uma mentira das grossas. Chips cerebrais, GPS subcutâneos, ataques terroristas provocados pelo próprio governo, discos voadores... Mas o guitarrista, vocalista e principal compositor do Muse, Matthew Bellamy, parece que está vivendo muito tempo nesta dimensão na qual “eles riem enquanto caímos” e “essas guerras não podem ser vencidas”. Essa obsessão paranoica atinge o clímax em The Resistance, que completa uma espécie de trilogia do apocalipse pós-moderno iniciada com Absolution e perpetuada em Black Holes and Revelations. “The Uprising”, faixa de abertura, amacia o ouvinte com uma batida poderosa e um refrão fácil, semelhante à de “Starlight” e joga todas as teorias da conspiração possíveis. A ousadia do trio começa a tomar forma com “Resistance”, que ainda traz ecos de Depeche Mode – como “Map of Problematique” –, mas se quebra inteira como se o Queen possuísse a banda para uma versão ciberpunk de “Bohemian Rhapsody”. Se “Unnatural Selection” traz o Muse em um campo que eles não perdem (rock glam épico), “Undisclosed Desires” é a única derrapada na ousadia do grupo: um R&B bem semvergonha. Tudo volta aos trilhos com a sinfonia rocker de 15 minutos “Exogenesis”, dividida em três atos. É a trilha sonora da melhor ficção científica jamais concebida. E um adeus para quem ainda os rotulava de sub-Radiohead. Essa paranoia, pelo menos, Bellamy pode esquecer.
POR RODRIGO SALEM