O Que Você Quer Saber de Verdade

Marisa Monte

JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR

Publicado em 07/11/2011, às 11h38 - Atualizado às 11h55
O Que Você Quer Saber de Verdade
O Que Você Quer Saber de Verdade

Com o jogo ganho, cantora não ousa e prefere navegar em águas tranquilas

Se você ainda não escutou nem se interessou por O Que Você Quer Saber de Verdade, as chances são boas de que isso permaneça assim. O álbum, lançado em 31 de outubro, tem tudo para arrebentar no Natal e continuar fazendo sucesso ao longo de 2012. Só que mais uma vez a cantora de 44 anos está pregando para convertidos, não para conquistar novos fiéis. Isso é ruim, mas também não é. Marisa Monte segue como um porto seguro para quem gosta de Marisa Monte. Aposta no garantido, não inventa. E nunca é menos do que competente.

Mas o álbum não traz mesmo nenhuma novidade? Traz várias e não traz nenhuma. Apesar de gravar gente que ela nunca tinha gravado, de tocar com músicos com quem nunca havia tocado, Marisa repete a fórmula que é usada desde os primórdios de sua carreira. A regra principal é estar sempre cercada por um timaço, mesclando jogadores daqui e de fora. Só mudam os nomes. É verdade que alguns já são titulares há bastante tempo, casos dos parceiros de composição Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown e de Dadi, que divide a produção do trabalho com a cantora. Um ouvinte mais atento consegue até perceber quando a mão de um desses pesa. A baladona brega “Aquela Velha Canção”, que remete às incursões sertanejas de Roberto Carlos (principalmente “Caminhoneiro”), segue linear e coerente até a chegada do verso “Alô a lua, alô amor, alô a lua, alô a lua, amor”. Foi, certamente, uma contribuição de Brown.

Um colaborador fresquinho no bonde de Marisa é Miguel Atwood-Ferguson, que trabalhou com J Dilla, rapper e produtor morto em 2006, e fez os arranjos de cordas de Cosmogramma, disco do americano Flying Lotus. Quando Atwood-Ferguson entra em cena no disco de Marisa, o resultado é arrebatador. Ele confere dramaticidade a “Descalço no Parque”, que o então Jorge Ben lançou em seu segundo álbum, ressalta a melancolia de “Depois” e salva do marasmo “Verdade, uma Ilusão”, que já tinha sido gravada por Brown com auxílio dos Paralamas do Sucesso no ano passado.

Em “Era Óbvio”, o grande momento do álbum, quem brilha é o chapa dos Beastie Boys, Money Mark. Variando entre o piano elétrico Fender Rhodes e o órgão Hammond, ele fornece a cama para um soul contido, com vocal choroso à Tim Maia. Outro gringo de responsa é Jesse Harris, sempre lembrado pelo vínculo musical com Norah Jones. Ele coloca seu violão em “Amar Alguém”, que pode ser lida como uma elegante ode à bigamia.

Escrita por Arnaldo e três músicos de sua banda (Marcelo Jeneci, Chico Salem e Betão Aguiar), “Hoje Eu Não Saio Não” entrelaça o ronroco e a guitarra cítara de Gustavo Santaolalla, argentino que talhou Café Tacuba e Julieta Venegas para o estrelato, entre outros feitos, com o acordeão de Waldonys, pupilo de Luiz Gonzaga. A música tem um clima forrozeiro, assim como o dueto com Rodrigo Amarante, intitulado “O Que Se Quer”. O ruivo do Los Hermanos assume uma discreta segunda voz, mas também toca violão, viola, teclados, baixo, percussão e bateria eletrônica na faixa.

Entre as não inéditas, vale destacar a faixa-título, gravada por Arnaldo Antunes em 2006, e “Nada Tudo”, composta por André Carvalho, filho de Dadi. Lançada por Dalva de Oliveira na década de 50, “Lencinho Querido” é a tradução de um célebre tango, que pontua a passagem mais morosa do CD. Ela é sucedida por “Ainda Bem”, o primeiro single, que avulso soava banal, mas que no meio do álbum traz um sopro de esperança, muito em razão de seu trompete mariachi. Agora é esperar mais cinco anos até o próximo bom disco de Marisa. Sem surpresas.

Fonte: Phonomotor/EMI

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