Angra
O título diz mais do que as declaradas intenções. Em latim, “omni” é uma daquelas declinações escalafobéticas cujo significado pode ser “de todo”. Aqui, a expressão vem gritando, toda em caixa alta. Neste novo trabalho, o Angra tece referências a praticamente a todos as vertentes do metal. Essa diversidade não é nova, mas vem em um crescendo desde os últimos trabalhos do quinteto. Secret Garden, o álbum anterior, lançado no fim de 2014 (início de 2015 no Brasil), também teve faixas que apontavam em direções diferentes. O disco marcou a estreia do italiano Fabio Lione nos vocais de um álbum de estúdio do Angra e também o começo da parceria com o produtor sueco Jens Bogren, que já trabalhou com dezenas de bandas, como Opeth e Amon Amarth, assim como no mais recente álbum do Sepultura – prova de que o cara transita em várias searas do metal. O Angra resolveu repetir a dose e voltou à Suécia para gravar ØMNI com ele. Decisão bem acertada.
“Light of Transcendence”, que abre o disco, é uma faixa de metal quase sinfônico em alta velocidade. Se a tal luz da transcendência é acompanhada pelas guitarras de Rafael Bittencourt e seu novo parceiro, Marcelo Barbosa, ela deveria vir com advertência aos epiléticos. Já “Insania” é mais viajante, ainda que operática, como também é o hit “Black Widow’s Web”, que traz participações antagônicas: a eufonia melodiosa da cantora Sandy em contraponto aos soberbos gargarejos de Alissa White-Gluz, vocalista da banda de death metal melódico ArchEnemy. Enquanto que “Caveman”, com uma pegada mais atual e coro em português, e “Travelers of Time”, que inicia com uma batucada do demônio antes de entrar no metal desenfreado, tentam conectar o Angra com sua terra natal, outras faixas remetem ao passado. “Magic Mirror” se encaixa no escaninho do metal progressivo, e a ótima “War Horns”, com a descrição da Besta do Apocalipse em sua introdução, alude ao heavy metal da velha escola. Essa faixa é a única de ØMNI que tem a guitarra de Kiko Loureiro, que se bandeou para o lado do Megadeth. A edição japonesa vai mais longe e traz como bônus “Z.I.T.Ø.”, uma regravação de uma canção da época da formação original do grupo.
O conceito expresso pela própria banda era unir as ideias trazidas em álbuns anteriores. Em certo momento, essa mistura minuciosamente interpretada desvia a atenção para outras questões, mais conceituais ainda, como o virtuosismo em contraposição à criatividade e os limites dogmáticos desse gênero sempre tão ensimesmado. A elocubração se acaba e a emoção volta nos primeiros acordes da excelente “ØMNI – Silence Inside”, que parece passear por sons africanos antes de pular de cabeça no power metal. Sua faixa irmã, “ØMNI – Infinite Room”, puramente sinfônica e que cita trechos de todas as músicas, encerra o disco. É uma bela barafunda de estilos que faz de ØMNI um dos melhores álbuns do Angra.
Fonte: EarMUSIC