Entre o samba e a bossa.
Apesar de estar sendo chamado de "um disco de samba", o novo trabalho de Maria Rita tem diversos momentos bossa nova. Com seu pianinho, "Num Corpo Só", de Arlindo Cruz e Picolé, é um exemplo disso. "Cria", de Serginho Meriti e César Belieny, também tem algo que soa estranho, além da participação das crianças no início da canção, que é fofa, mas não acrescenta muito para quem não tem laço afetivo com elas. Já "Tá Perdoado", música composta por Arlindo para a cantora, acaba com qualquer suposta má impressão que a seqüência anterior possa ter causado: é um samba de primeira, com direito a tamborim, prato, faca e frigideira tocados por Layse Sapucahy. Do mesmo mestre, "Pra Declarar Minha Saudade", "O que É o Amor" e "Trajetória" são belíssimas, mas também ganharam arranjos meio nova bossa com ranço da velha. Mas Samba Meu também tem seus momentos incríveis. Assim como Leandro Sapucahy, na produção e na percussão, o jovem compositor Edu Krieger contribuiu (e muito!) para este repertório - que poderia ter um pouquinho menos de Arlindo - com "Novo Amor" e "Maria do Socorro". A primeira, um choro alegre, tem a deliciosa participação do grupo Galo Preto. A outra é um samba divertido, que se aproxima daqueles feitos em meados do século 20 e hoje são interpretados nos bares da Lapa carioca. De autoria do jovem e desconhecido Rodrigo Bittencourt, o choro que dá nome ao disco é impecável na afinadíssima voz a capella de Maria Rita. De Gonzaguinha, "O Homem Falou" é um típico samba-enredo com texto e linguagem que fogem ao tradicional: "Não vamos deixar ninguém atrapalhar a nossa passagem / Não vamos deixar ninguém chegar com sacanagem". Apesar de trazer termos datados como "marombeira", "Corpitcho" até que é divertida. "Casa de Noca" fecha o disco confirmando a proposta inicial: Maria Rita pode se vestir de sambista quando quiser. Quando o arranjo não puxa a cantora para a bossa, ela se torna uma legítima porta-bandeira.
Por Christina Fuscaldo
Maria Rita
Samba Meu
Warner
12
10
2007