Instituto
“O chico science vem bolando um verde do cais/ A mente sagaz/ Quem corre atrás sempre faz”, canta o ra pper Sabotage. Ele vem acompanhado pelo baixo marcante de Quincas Moreira e pela guitarra inconfundível de Lúcio Maia (Nação Zumbi) na letra de “Alto Zé do Pinho”, uma das 13 canções que compõem Violar, o segundo disco de estúdio do coletivo Instituto. Gravada por um time de músicos que ainda inclui Pupillo (bateria) e Jorge Du Peixe (teclados), ambos do Nação, Otto (vocais) e Sombra (vocais), a canção é o ponto alto do repertório por mostrar a facilidade com a qual Sabotage, morto em 2003, emposta a voz aguda enquanto presta uma homenagem a Chico Science. Ao lado de “Dama Tereza”, faixa de Coleção Nacional (2002), o registro de estreia do Instituto, na qual o rapper fala de amor sobre uma base com elementos de samba, esta é uma das únicas vezes em que os fãs têm a oportunidade de ouvi-lo transcender a temática da violência endêmica das periferias de São Paulo e “soltar a voz” em um sentido mais amplo da expressão.
A união entre o hip-hop e o manguebeat expõe de forma contundente a importância deTejo Damasceno, Rica Amabis e Daniel Ganjaman – que oficialmente não faz mais parte do coletivo, mas participou de Violar – na produção musical contemporânea brasileira. Outro destaque do CD é “Vai Ser Assim”, que tem Criolo como intérprete e faz parte da trilha sonora do documentário Junho – O Mês que Abalou o Brasil, de João Wainer, que retrata as manifestações populares que inundaram as ruas do país em 2013. Além dessa ligação cinematográfica, o disco ainda engloba uma parceria com o artista plástico Alexandre Orion, que há anos tem os vídeos de algumas de suas obras sonorizados por canções instrumentais do Instituto e agora retribui com a criação da capa de Violar. Duas das músicas usadas anteriormente por Orion, “Ossário” e “Polugravura”, também fazem parte do repertório do trabalho. “Baía” e “Bossa Chinesa” completam o time das faixas instrumentais. “Mais Carne”, que carrega elementos de trap music, marca a parceria inédita entre a rapper Karol Conká e a cantora Tulipa Ruiz. O Metá Metá aparece na fortíssima “Irôco”, uma ode à África. Curumin celebra a natureza em “Pacto com o Mato”. “Tudo que se Move”, a canção mais pop do disco, tem novamente Lúcio Maia na guitarra e uma inspirada interpretação de Tulipa. A farta combinação sonora promovida pelo Instituto em Violar só reafirma a boa fase que atravessa a música independente produzida no Brasil.
Fonte: YB Music