Pouca coisa na história da música popular do Brasil pode render material mais rico do que a vida de Rita Lee. Disfarçados sob sua música leve estão os bastidores de uma profunda jornada, o caminho tortuoso que converteu uma menina loira e sardenta na maior artista pop que poderíamos produzir por aqui. Agora que sua vida chega à casa dos 60 e sua obra à dos 40, a necessidade de fazer registros e avaliações sobre uma coisa e outra se torna quase incontrolável. Por isso, a própria Rita decidiu colaborar. Concedeu a Henrique Bartsch as entrevistas que depois comporiam a parte real do semibiográfico Rita Lee Mora ao Lado, livro lançado no ano passado. Agora, repete a dose para as lentes de Roberto de Oliveira e transforma uma longa série de conversas nos três DVDs da caixa Biograffiti. Batizado Ovelha Negra, o primeiro dos discos é, de longe, o melhor dos três - certamente porque é nele que Rita está mais humanizada e entregue à sua memória. A cantora visita a infância, a era pré-Mutantes, o tropicalismo, seus tempos de Tutti-Frutti. O segundo, Baila Comigo, se depara com uma Rita Lee mais "controlada". O tema é a vida na estrada, no palco e, por isso, traz cenas de shows em excesso - como todos foram gravados nesta década, não há grande diferença de interpretações e arranjos em relação ao MTV ao Vivo da cantora, já disponível em DVD. Cor-de-Rosa Choque, o último disquinho, fala do "sexo frágil que não foge à luta": Rita dimensiona seu papel de mulher desbravadora no mundo masculino do rock. O DVD termina com uma declaração da artista que contém a chave desse grande baú: "Eu não sei nada a meu respeito, cada vez sei menos. Você está me perguntando e eu estou mentindo". Alguém esperava uma biografia fiel à "verdade"? Ainda há muito trabalho a ser feito.
Por Marcus Preto
Show
Biscoito Fino
01
06
2007