Sony Pictures
Produção não conta a verdadeira história da gravadora Chess
Por que os filmes que tentam contar trechos da história do rock, do blues e do R&B costumam deixar o fã de música frustrado? Não falo do espectador médio, mas do cara que, como eu, tem interesse incomum pelo passado da música popular. Creio que o pop savant está tão familiarizado com a imagem das pessoas retratadas nesses filmes e com os fatos que eles tentam recriar que não aceita facilmente as caracterizações e as reduções históricas próprias dessas narrativas. Há bons filmes sobre astros do blues e do rock, mas quase nenhum capaz de fazer justiça à vida e à arte dos biografados. Cadillac Records não é exceção à regra maldita. O filme, estrelado por um Adrien Brody apático, e com Beyoncé encarnando Etta James, dá um canivetaço na verossimilhança ao apagar da história a figura de Phil Chess (ele aparece marginalmente em poucas cenas, mas sequer tem o nome citado no resto do filme). Ok, Leonard Chess era o macho alfa da dupla de irmãos poloneses que fundou e geriu a gravadora Chess a partir de 1950, mas ignorar a contribuição do Phil é crime inafiançável. Só por essa omissão a película já merece descrédito, mas há mais: o roteiro chapa branca retrata Leonard Chess de forma paternalista e não vai fundo na exposição dos abusos cometidos por ele contra os artistas da gravadora. Imprima-se a lenda? Neste caso, não.
POR ZECA AZEVEDO