Caixa junta dois longas metragens e uma compilação de clipes do astro francês
Foi no set de Slogan, em 1968, que Serge Gainsbourg conheceu Jane Birkin. Para sorte do diretor Pierre Grimblat, o casal se apaixonou e gravou e lançou a primeira versão pública da erótica “Je T’Aime Moi Non Plus” antes que o filme fosse lançado. Birkin e Gainsbourg se transformaram no “casal do ano” em 1969. E o filme se construiu disso, com muito da história real de Gainsbourg e Birkin contaminando positivamente a narrativa. Slogan tem sua graça, mas não se sustentaria bem sem esse charme. É um filme esquisito, semipop e antinaturalista, em que Grimblat aposta todas as suas fichas na empatia recém-conquistada do casal e na maravilhosa trilha, do próprio Gainsbourg. Já a estreia de Gainsbourg na direção, sete anos depois, com Paixão Selvagem, é de outro naipe. Ele usa o ator fetiche de Andy Warhol, o ex-michê Joe Dalessandro, e explora a aparência andrógina de Birkin para contar um romance carnal e brutal entre um caminhoneiro gay e a balconista de um bar francês no meio do nada. Também estilizado e antinaturalista, e movido por uma belíssima trilha, Paixão Selvagem é porém um legítimo produto da contracultura. Essa espécie de colisão entre Fassbinder, James Dean e O Último Tango em Paris pode repugnar certas sensibilidades educadas, mas é a afirmação maior do inconformismo artístico de Gainsbourg. A compilação de clipes Gainsbourg Musicale (1958- 1981) completa a caixa. Apesar de soar um pouco aleatória e excluir vários hits, é um apanhado interessante. A compilação acompanha a evolução do imaginário gainsbourguiano desde seu primeiro disco até a fase reggae e também traz um documentário fascinante feito para a TV francesa.
ALEX ANTUNES