Scott Cooper
Jeff Bridges, Maggie Gyllenhaal,Colin Farrell
Cinebiografia musical fictícia vale por atuação orgânica de Jeff Bridges
De pronto, Bad Blake parece o papel mais óbvio da gloriosa (e injustiçada) carreira de Jeff Bridges – um cantor country vida-louca cuja carreira decadente é uma pálida sombra das glórias passadas. Coração Louco retrata a triste rotina do velho ídolo, baseada em shows em inferninhos regados a birita, cigarros, gorfadas entre uma música e outra e casos ocasionais com fãs de meia-idade. Quando Blake se envolve com uma jornalista mãe solteira, a espiral descendente é interrompida, mas não muito: mesmo apaixonado, ele continua levando ao pé da letra a intensidade quase suicida das canções que escreve. Bad Blake, vale avisar, não existe: é uma figura fictícia criada a partir dos causos de diversos bad boys reais do country norte-americano. É praticamente impossível não comparar esse anti-herói com outro ícone eternizado por Bridges, o eterno Dude de O Grande Lebowski, mas não há problema algum nisso: o ator muito provavelmente levará o Oscar (prêmio que mereceu anteriormente por Lebowski), e, se o fato não ocorrer, é porque não existe mesmo lógica e justiça nessas premiações badaladas. No quesito profundidade, o enredo de Coração Louco não é nenhum primor, o que torna desleal qualquer comparação com cinebiografias musicais recentes (Johnny e June, Ray etc.). Porém, há largo espaço para apreciar não apenas a performance magistral e intocável de Bridges, como também a tocante trilha sonora, criada para se encaixar com perfeição ao surpreendente estilo vocal do astro.
Pablo Miyazawa