Rogério Correa
Murilo Rosa e Gabriela Flores
Primeiro longa do diretor traz o desemprego como estopim das crises
Rogério Correa é um diretor experiente em curtas, mas cometeu um erro comum aos marinheiros de primeira viagem em longas: o medo de arriscar. No Olho da Rua, exemplo de exercício de tese, é inconsistente e pouco articulado como cinema. Ambientado numa metrópole, traz a modernidade e o capitalismo como os vilões de Oton, metalúrgico demitido após trabalhar 20 anos na empresa e que, a partir daí, passa a viver uma crise conjugal. O filme traça parábolas para enriquecer o contexto. Um de seus amigos, o motoqueiro, representa o materialismo, enquanto o outro, um pastor evangélico, simboliza a religiosidade. Mas esse elemento subjetivo é insuficiente para dar força ao longa. Por mais atual e realista que seja o tema, falta verdade ao filme. Murilo Rosa se esforça bastante, mas não convence. Esse retrato urbano trágico nada mais faz do que mascarar as fragilidades do roteiro e encobrir os cacoetes e a falta de vigor dramático, deixando claro seu mergulho em falso recheado de boas intenções.
ÉRICO FUKS