Eliane Caffé
Claudia Assunção, Chico Diaz, Ary Fountoura
Uma viagem sem destino de dois esquecidos pela sociedade
A primeira fala em O Sol do Meio Dia acontece após alguns minutos de filme. Aqui o silêncio não só é uma opção estética da diretora mas também do protagonista que acompanha a jornada de Artur e Matuim pelas terras abandonadas do Pará. Eles se cruzam por acaso por motivos bem diferentes: o primeiro segue numa busca introspectiva da redenção pelo assassinato de sua mulher. O outro foge de cobradores de dívidas, pois não tem nenhum bem exceto uma embarcação velha e uma peruca. Esse antagonismo de comportamento é colocado em questão o tempo todo. A diretora Eliane explora a procura pela paz interior e pelo prazer imediato na mesma proporção. Sem maiores perspectivas, eles alimentam uma relação ambígua e simbiótica de estranhamento e aproximação. A leveza poética com que a câmera segue o percurso tragicômico e conduz essa mistura de fuga e encontro é o ponto forte do filme, que evita acelerar o ritmo e trazer definições fáceis para o entendimento de personalidades simples, mas ricas e complexas.
Érico Fuks