Marcia Derraik e Simplicio Neto
Documentário radiografa o universo de Bezerra da Silva e a relação dele com compositores
Onde a coruja dorme nasceu em 2001, como um curta-metragem. Agora, o título reaparece mais parrudo: além de Bezerra, seus compositores contam as histórias de músicas como “Malandragem Dá um Tempo” e “Candidato Caô Caô”, além de dezenas de outros clássicos cantados pelo pernambucano mais carioca que já existiu. Bezerra ia atrás dos compositores morro acima com um gravador em mãos. Afinal, muitos eram analfabetos, como o próprio ressalta. Nessas viagens, descobria pérolas que viravam sucesso na sua voz e, com isso, ele ia criando um time de cabeças que pensavam a periferia e tudo o que fazia parte dela. Todos esses temas estão na telona: drogas, bandidagem, ética (a figura do alcaguete, dedo-duro, é odiada por todos e virou tema de dezenas de músicas) e até direitos autorais. “Isso é o Brasil e eu canto isso”, afirma Bezerra. “Nós somos a mente dele”, completa um dos compositores. Até a linguagem das músicas é discutida: Luiz Grande, autor de “Corcoviei”, conta que teve que explicar para a censura o significado do nome da música, além de termos que ele usou na letra, como “caxanga” (casa, barraco) e “Boca do Mato” (um bairro carioca). O dia a dia dos compositores de Bezerra é bem representado e o filme mostra que o cantor não ganhou o título de “A Voz do Morro” sem motivo. A pesquisa musical que fazia resultou em sua obra e no seu reconhecimento.