David O. Russell
Retrato atípico de 1978, fi lme se garante com boas atuações e penteados esdrúxulos
Trapaça é o filme dos anos 70 menos “anos 70” de que se tem notícia. As roupas espalhafatosas e o apreço pelos penteados ridículos estão ali, e a (boa) trilha da época eventualmente dá seu recado. Drogas e sexo, típicos das reconstituições desse período, aqui quase inexistem, e a violência é sugerida e pouco sangrenta. Dá para dizer que o diretor David O. Russell sempre teve apreço por fugir do lugar-comum, e Trapaça é o atestado desse lado provocador e “fora da curva”. E, assim como o filme anterior dele, O Lado Bom da Vida, aqui são as atuações que ditam a temperatura – não por coincidência, os quatro nomes principais do elenco foram indicados ao Oscar. Christian Bale está irreconhecível e incrível como Irving Rosenfeld, o vigarista de bom coração que é recrutado pelo FBI para ajudar a incriminar políticos corruptos, enquanto Bradley Cooper se esforça como um agente federal sociopata e ambicioso. Entre as atrizes, Amy Adams é eficiente como a parceira de crime de Bale, mas acabou ofuscada por Jennifer Lawrence, que já estabeleceu um padrão de atuação adorável em qualquer papel em que possa se comportar como maluca. A história, baseada de leve em fatos reais, teria permissão de até ser mais confusa, mas tudo é mastigado e bem explicado demais, carregado de flashbacks e narrações. Fica difícil de ter certeza se era para ser uma sátira, um thriller policial ou um filme de gângsters à Martin Scorsese, já que Russell, trapaceiro que só ele, não se dá ao luxo de nos explicar que tipo de filme pretendia fazer. Mas após o final edificante e previsível, tudo leva a crer que o plano dele fosse exatamente esse.
Elenco: Christian Bale, Amy Adams, Bradley Cooper e Jennifer Lawrence