Harmonix
Xbox 360 / PlayStation 3 / Wii
Cada um à sua maneira, John Lennon e Kurt Cobain ressuscitam e conservam em alta o interesse pelos games musicais
Criticar games musicais é tarefa fácil (“vá tocar em uma banda de verdade”, xingaria um purista), mas é impossível ignorar a importância desse formato para a sobrevida da moribunda indústria fonográfica. Teorias de lado, é válido também ressaltar a similaridade entre as experiências oferecidas pelos dois rivais solitários no gênero, Guitar Hero e Rock Band: a simulação digital das atividades de uma atarefada banda cover por meio de instrumentos e microfones de mentirinha. Mas também há diferenças entre os jogos, que, se são demasiadamente sutis a olhos leigos, chegam a ser gritantes para os mais afinados com a bizarra arte do rock de mentira.
Guitar Hero 5 enfatiza a habilidade e se assume como um produto para já iniciados, apesar de revelar tendências casuais: é possível tocar músicas com instrumentos repetidos, entre outras gracinhas. Deficiente é o set list, que atira para todos os lados e não foca em lugar algum, de Bob Dylan a Iron Maiden, de Blink-182 a Tom Petty. Personas virtuais de Shirley Manson (Garbage), Matt Bellamy (Muse), Santana, Johnny Cash e Kurt Cobain podem ser usados como personagens jogáveis e incrementam a experiência, mas até o mais versátil dos roqueiros ficará insatisfeito com o repertório esquizofrênico.
A mesma reclamação já não pode ser feita com The Beatles: Rock Band. São 45 faixas irretocáveis, desde não tão óbvias (“If I Needed Someone”, “Boys”) a clássicos onipresentes do cancioneiro beatleano ( “Twist and Shout”, “I Am the Walrus”). Claramente voltado para a celebração de vida e obra da maior banda de todos os tempos, o jogo é diversão prazerosa que não exige um fanatismo exagerado ou prévia familiaridade com jogos musicais. Sua grande revolução, entretanto, está no setor técnico: pela primeira vez, um game permite harmonias vocais com três jogadores simultâneos. Mais condizente com a qualidade melódica consolidada pelo quarteto de Liverpool, impossível. E se compararmos a maneira com que os ídolos – vivos ou mortos – ganharam vida virtualmente? A criação dos Beatles foi acompanhada de perto por Paul, Ringo e pelas viúvas Yoko Ono e Olivia Harrison, o que garantiu um tratamento respeitoso e impecável. Menos sorte teve Kurt, cujos direitos de imagem pertencem à não tão dedicada Courtney Love. Presenciar o ícone morto cantar Bon Jovi, Billy Idol e Public Enemy com tamanha paixão e afinco poderia ser cômico se não fosse tão chocante. Ao mesmo tempo, é uma experiência que por si só já vale a aquisição do game.
POR PABLO MIYAZAWA