676 Aparições de Killoffer

Redação

Publicado em 11/03/2011, às 10h16 - Atualizado às 10h16
Divulgação
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Patrice Killoffer

LeYa Cult/Barba Negra

Quadrinista cria clones de si próprio e os coloca em situações surreais

Na capa de Brick by Brick, último grande álbum de Iggy Pop, Charles Burns coloriu um estranho mosaico de extravagantes seres. O olhar de Burns viu em 676 Aparições de Killoffer, novela gráfica do quadrinista francês Patrice Killoffer, uma obra-prima de horror. E pôs em cheque: “Por que criar monstros, zumbis e alinenígenas quando o verdadeiro horror está sob sua pele?” Pintada em um garboso preto e branco, a ojeriza narrativa de Patrice Killoffer concentra- se na proliferação bacteriana da pilha de louça suja que abandonou em sua mudança para Montreal. Do Canadá, o ilustrador ganhou uma bolsa para criar uma obra sobre a vivência estrangeira. É o ponto de partida da psicopática viagem de 676 Aparições de Killoffer. Do “fungo” brotou a HQ. O clima metamórfico da narrativa faz quase forçosa a alegoria com a barata de Franz Kafka. Em suas aparições (676 mesmo?), o desenhista deparase com centenas de versões de si próprio; chega às raias de sofrer um estupro de si mesmo. Patrice lambuza-se no recurso autocomiserativo sem, literalmente, perder sua bem-trajada elegância. O esmerado volume tem oito páginas de texto. As 40 restantes são devotadas ao “medo e delírio”. Tematicamente, 676 Aparições, pode não ser inovador, mas sua gestalt o é. Killoffer aboliu as linhas divisórias nos quadros nas páginas e, em troca, ganhou muito mais espaço para viajar no absurdo.

CRISTIANO BASTOS

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