Aquele bairro
No bairro do escritor português Gonçalo M. Tavares vive gente muito estranha, mas familiar. Cada livro da coleção O Bairro apresenta um homônimo de um grande escritor. Há um senhor Brecht que conta fábulas brechtianas, cheias de violência e ironia. Há o senhor Kraus a escrever crônicas sarcásticas para o jornal, como seu homônimo austríaco, o jornalista Karl Kraus. E essas crônicas enfileiram os absurdos da burocracia e a demência dos nossos políticos. Fora os malucos completos, como o senhor Juarroz, que guarda com ciúme uma gaveta cheia de nada, e lembra o poeta argentino Roberto Juarroz. E o que dizer do senhor Calvino, que sai de casa carregando uma vara e se esforça para mantê-la sempre na mesma posição? É digno dos livros de Ítalo Calvino. Se o leitor conhece os autores retratados, vai se divertir com a recriação de seus estilos, temas e trejeitos. Se não conhece, pode se encantar com o humor de Gonçalo M. Tavares, muito próximo da prosa do curitibano Manoel Carlos Karam. Os volumes mais recentes são o do senhor Kraus e o do senhor Juarroz, e a edição muito bem cuidada traz até um mapa do bairro, com os nomes da vizinhança, e quem sabe futuros lançamentos.
Por Marcelo Ferlin Assami
Administração e Negócios
Gonçalo M. Tavares
01
05
2007