Ferreira Gullar
José Olympio
Aos 80 anos, Ferreira Gullar mostra fôlego intacto em belíssimo livro
Foram necessários 11 anos de silêncio e gestação para que o poeta Ferreira Gullar, ao completar 80 anos de idade, nos brindasse com Em Alguma Parte Alguma, um novo livro de poemas – o último havia sido Muitas Vozes, de 1999. Seguramente um dos maiores poetas da língua portuguesa, em seu livro inédito Gullar não decepciona e nem “amolece” com a velhice, como tantos de seus colegas de ofício. Se há em seus poemas a contemplação da morte, persiste também a celebração da vida, do inesperado oculto no perfume de jasmim das flores (“um lampejo entre as mãos”) ou a perplexidade ao observar uma aranha ou a imensidão das galáxias – que podem ser contidas em quatrilhões de estrelas ou simplesmente em seu apartamento. Pois, assim como em toda a sua obra pregressa – são 61 anos de exercício poético –, neste novo livro é seu olhar inaugural e vibrante para as coisas o que o guia. Gullar confia mais no espanto do que na análise, pois, para ele, “de tais espantos somos feitos”. Por isso sua poesia é rara, mas irretocável.
Mauricio Duarte