Histórias Perdidas do Rock Brasileiro Vol.1
Redação
Publicado em 11/03/2010, às 07h58 - Atualizado às 11h28Nelio Rodrigues
Nitpress
Lado B do Rock
Livro resgata ilustres desconhecidos e artistas cult do cenário nacional de décadas passadas
Se, no século 21, roqueiro brasileiro tem “pinta de emo”, nos remotos anos 60 e 70, de fato, demarcou a madrinha Rita Lee, a cara desse tipo underground era de “bandido”. Tal marginalidade, porém, não restringia-se ao fenótipo: a ditadura militar vigente no país, equipamentos toscos, carência de público, o pouco casa da mídia e da indústria fonográfica sentenciaram as linhagens bárbaras do rock nacional ao segundo escalão. Este livro do pesquisador Nelio Rodrigues ressuscita a mitologia de bandas que ficaram perdidas no tempo como. Os Selvagens, Analfabitles, Red Snakes, Módulo 1000, Faia e Lodo. Originalmente, os textos compilados no volume foram publicados na revista eletrônica Senhor F. Um dos gênios revividos é Jorge Amiden (Karma, O Terço), o “Syd Barret mineiro”. Reza que Amiden foi o primeiro a empunhar uma guitarra de três braços (a tritarra) – antes de Jimmy Page –, no Festival Internacional da Canção de 1971. O Karma, a propósito, lançou somente um álbum de folk-rock-prog, o qual, desde 1972, hiberna criogenizado nos arquivos da gravadora RCA.
Entrevista com Nelio Rodrigues
Quais as adversidades enfrentadas pelas bandas nos anos 60 e 70?
A linhagem roqueira que corria em paralelo à jovem guarda era formada por bandas que copiavam a estética difundida a partir de Carnaby Street, um dos epicentros da Swinging London: roupas coloridas, cabelos grandes e a atitude transgressora. Essa turma tocava mais alto, possuía instrumentos melhores, alinhava-se com os movimentos contraculturais e fazia uso da maconha e do ácido lisérgico. E, ao contrário do pessoal da jovem guarda, sofreu com o desdém das gravadoras, teve muito pouco acesso a jornais, revistas, rádio e televisão. Em plena ditadura, era vista pela direita como subversiva e pela esquerda como produto de alienados a serviço da cultura imperialista.
Muitos álbuns, à época ignorados, hoje são preciosidades para colecionadores do mundo todo. Por que isso ocorreu?
No período pós-tropicalista, quando os Mutantes e os Novos Baianos souberam mesclar o banquinho e o violão com o som eletrificado das guitarras, dando um sotaque tupiniquim ao rock brasileiro, todas as luzes apontaram o foco para essas duas bandas. Além do mais, havia, sim, preconceito contra o rock feito no Brasil. Isso explica por que discos antológicos de bandas como Os Brazões, Os Lobos e Karma não terem merecido devida atenção na época.
Cristiano Bastos