Homem Lento
Redação
Publicado em 11/10/2007, às 18h14 - Atualizado em 02/11/2007, às 12h47Coetzee passa a perna no leitor
Paul Rayment, 60 anos, sem família, é atropelado e perde a perna, mas se recusa a usar prótese. Vive um amor não correspondido pela enfermeira, uma imigrante croata, e passa a ser visitado, importunado, por Elizabeth Costello, velha escritora que recebeu um personagem difícil, com o qual não sabe lidar, o próprio Paul. Costello, que já apareceu em outras obras do autor, não é alterego, mas uma "tia Cotinha" que quer pregar para Deus e o mundo. O aleijado que precisa reaprender a viver parece mais história para Oscar do que livro de quem ganhou o Nobel. Mas, mesmo lembrando que o prêmio é mais um reconhecimento da obra e do artista que um atestado de qualidade, Homem Lento não empolga. Amputação remete ao físico, ao erótico, como sacou J.G. Ballard. E o inevitável só aparece no capítulo 15 (página 3), uma cena de sexo entre o aleijado e uma cega, mas isso também não empolga. Coetzee parece não saber mais o que fazer com Paul e os outros personagens (cortar outra perna?), e por isso muitos críticos disseram que o livro é sobre a arte da narração e da escrita. Mas Homem Lento é apenas elaborado demais, excessivamente livresco, as alusões lembram outros livros, mais interessantes. E quando, ao perceber sua solidão, Paul diz que não é o "nós" de "ninguém", a frase inevitavelmente lembra A Sócia do Casamento, da Carson McCullers, livro empolgante, e livre de Oscar e Nobel.
Por Marcelo Ferlin Assami
Literatura Nacional
J. M. Coetzee
01
08
2007