Patti Smith
Dos sonhos com personagens recorrentes à paixão por detetives da teledramaturgia, da solidão atual ao passado de cumplicidade em família, Linha M nos leva a uma jornada por dentro da cabeça e da vida de Patti Smith. O que testemunhamos (e sentimos) é uma espécie de diário extremamente introspectivo. Patti abre a rotina de leitura e escrita em seu café preferido em Nova York, apresenta um vaqueiro que teima em surgir nos períodos de sono (ou semissono) e dá um vislumbre da agonia que vem com a passagem do tempo. Diferentemente de Só Garotos, primeiro livro de memórias da artista, Linha M não nos traz às lágrimas de maneira pontual. Se no primeiro a emoção jorra em episódios específicos, no segundo a sensação de dor chega dissipada. Vem na lembrança de passeios dela com o marido, o guitarrista Fred “Sonic” Smith, do MC5, morto em 1994. Vem no sentimento de que as fotografias de Patti que permeiam o livro não são capazes de trazer de volta as sensações registradas no momento em que foram tiradas. Não é, no entanto, um retrato amargo: é como a impressão do fluxo de pensamentos de uma escritora bastante consciente de suas dúvidas, certezas e devaneios.
Fonte: Companhia das Letras