Pascalingundum! Os Eternos Demônios da Garoa

Redação

Publicado em 10/05/2009, às 08h34
Uma das inúmeras formações do longevo Demônios da Garoa
Uma das inúmeras formações do longevo Demônios da Garoa

Assis Ângelo

GTT

As seis décadas do mais paulistano dos grupos ganha obra especial

No dia 6 de maio de 1949, o selo Continental lançava um obscuro disco de 78 rotações com a faixa “Sanfoneiro Folgado”. A música talvez não tenha chamado tanta atenção quanto o nome do grupo estampado no selo: Demônios da Garoa. Sim, são 60 anos da existência oficial do Demônios e este mês de maio vai ser marcado pelas inevitáveis (e merecidas) homenagens, exposições e shows comemorativos. Mas o verdadeiro espírito do Demônios pode ser encontrado neste livro concebido pelo pesquisador e jornalista Assis Ângelo. A obra é essencial não só por contar a saga deste que é considerado o grupo mais antigo em atividade ininterrupta do mundo. A jornada do Demônios se confunde com a evolução da capital paulistana. O Demônios começou no tempo em que São Paulo deixava de ser romântica, quando ficava para trás a era dos bondes e das serestas e a cidade entrava num processo

vertiginoso de industrialização e massificação. A música do Demônios captou bem a geografia urbana de São Paulo, suas ruas, praças e viadutos e traduziu em canção a linguagem de sua população, principalmente dos imigrantes italianos que populavam as regiões de bairros como Brás e Bixiga. O trabalho de Assis, que levou 15 anos, demonstra fôlego. Ele conseguiu traçar a genealogia do Demônios, mostrando

seus fundadores e suas influências, detalhando as incontáveis trocas de formação, além de apresentar uma bem pesquisada discografia. E, é claro, tem um capítulo sobre “Trem das Onze”, a canção que se tornou uma espécie de hino não oficial de São Paulo. Outro segmento fala do seu autor, o também lendário Adoniran Barbosa, cuja trajetória muitas vezes intercalava com a do Demônios.

Entrevista: Assis Ângelo

Como você vê essa identificação da cidade de São Paulo com a música do Demônios?

Desde cedo o grupo procurou entender e se encaixar à vida paulistana. Daí o sucesso. O linguajar do povo da rua foi o ponto de intercessão. Artistas como Germano Mathias e Osvaldinho da Cuíca que o digam. E Roberto Carlos também. Ele recolheu a expressão “é uma brasa, mora!” e gírias como “cara” e “bicho”. O

paulista fala “porrrrrta”. O paulistano fala “ôôôôôrra, meu!” Ao arguto Arnaldo Rosa, líder do grupo, isso não passou despercebido. E assim, não por acaso, hoje o Demônios é reconhecido por pesquisas de opinião como “a cara de São Paulo”.

A que você atribui a longevidade do Demônios?

À autenticidade. O grupo nasceu num tempo que não existia Disco de Ouro, de Platina etc. Se existisse, ganharia todos. Aliás, ganhou o Roquete Pinto em 1955 e outros prêmios de grande valia no correr da vida profissional. Em 1994, faturou Disco de Ouro com o LP Demônios da Garoa 50 Anos e entrou no Guiness

Book como o grupo musical mais antigo do Brasil. Na verdade, em atividade profissional ininterrupta, é o mais antigo do mundo.

Como foi a relação do Demônios com o Adoniran Barbosa?

Péssima. Uma pena. E tudo por conta de desacertos financeiros. “Trem das Onze” até hoje é a marca registrada do Demônios.

Quais são as lendas que cercam a música?

Antes de mais nada: o trem das onze não existiu. E não é lenda, é fato: esse samba, cuja letra era quilométrica, permaneceu jogado numa gaveta por cerca de cinco anos. Foi gravado em hebraico, inglês, italiano...

PAULO CAVALCANTI

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