Kendrick Lamar leva rap de Compton a nível global de excelência em show em SP
Cantor entrega show focado na essência do rap durante curta passagem pelo Brasil, revisitando sua discografia e reafirmando sua posição na cena
Kadu Soares (@soareskaa)
Até onde o ódio pode te levar? Até o Grammy? Super Bowl? Música do ano? Uma turnê nova? Foi isso que Kendrick Lamar respondeu na noite da última terça, 30, no Allianz Parque, em São Paulo, com uma de suas performances mais intensas de sua carreira no Brasil.
O show de menos de duas horas e com público menor do que o esperado (a organização do evento moveu o público da cadeira superior para a inferior por conta das vendas) mostrou um rapper mais focado na essência do rap, onde a atenção está na lírica complexa e não em super shows.
Essa foi a segunda apresentação solo de K.Dot depois do Super Bowl e a segunda da Grand National Tour sem a SZA, que por motivos desconhecidos não veio ao Brasil e deu mais espaço para o rapper revisitar grande parte da sua discografia.
Entretanto, o show começou quase uma hora depois do previsto. E a espera valeu. “wacced out murals” e “squabble up” jogaram o clima lá em cima em menos de 10 minutos, que foram suficientes para entender como seria todo o resto: show simples — no sentido bom da palavra —, com palco sóbrio e dançarinos sensacionais, nada de superestruturas, autotune e apelos ao público, já que uma indireta a mais para o Drake poderia incendiar tanto o estádio quanto a briga que já foi levada ao tribunal.
Depois disso, Kung Fu Kenny seguiu com faixas de outros discos como “N95” (Mr. Morale & the Big Steppers), “King Kunta” (To Pimp a Butterfly) e “ELEMENT.” (Damn), fechando o ato inicial com a primeira metade de “tv off“, música de seu mais recente disco, GNX, lançado de surpresa no final de 2024.

“Podemos aumentar o nível?”
Gritou Lamar antes dos primeiros acordes de “euphoria” tocarem, uma das primeiras diss tracks de toda a confusão com Drake. E, realmente, o nível aumentou, agora interagindo mais com o público, mais pirotecnia, coreografias e com um telão que dividia a atenção com todo o espetáculo sobre o palco.
Passamos para “hey now” e “reincarnated“, ambas de GNX, “HUMBLE.” e “Backseat Freestyle” até chegarmos em “family ties“, na qual era perceptível vermos um Kendrick mais à vontade. Mais para frente, também só hits, dentre eles, “Alright“, que criavam ainda mais expectativa para aquela música que todos queriam ouvir.
“Podemos aumentar ainda mais o nível?”, perguntou novamente ao público antes de cantar “Like That“, “DNA.” e “GOOD CREDIT“. A essa altura, mais da metade do show, Man Man — mais um apelido do cantor — se voltou aos seus projetos mais antigos e consagrados, cantando um novo mix de “Count Me Out” com “Money Trees” e “Poetic Justice” que, curiosamente, tem versos de Drake na versão original e foram cortados aqui.
O final do espetáculo
Por fim, após um breve clipe de Kendrick ao lado de SZA, o restante do show aliviou a ansiedade da plateia com “Luther“, a segunda metade — e mais animada — de “tv off” e “Not Like Us“, ápice da noite que colocou o último prego no caixão de Drake.
A canção foi indicada a cinco categorias no 67º Grammy Awards e venceu todas: Gravação do Ano, Canção do Ano, Melhor Performance de Rap, Melhor Canção de Rap e Melhor Videoclipe — e não é para menos. Todo mundo, fãs e não fãs de Drake, adultos, crianças, pais e até os vendedores ambulantes participaram da festa e cantaram pelo menos uma linha da música que foi uma febre quando lançada, em 4 de maio de 2024.
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E poderia ter acabado aí, mas Kendrick encerrou com “Gloria“, bem mais desanimada e com clima de final de show. “The first Grand National Tour, but it won’t be the last, Brazil. I love you”, se despedindo.
A performance de Kendrick Lamar no Allianz Parque foi, sem dúvida, um show digno da Costa Oeste (West Coast) e do gangsta rap — mesmo com ele sabendo conciliar momentos melódicos com agressivos. Uma coisa é certa: se a lenda Tupac Shakur estivesse na plateia, ele ficaria orgulhoso. Lamar levou o rap de Compton a um nível global de excelência, mantendo a autenticidade e a essência política que definiram o gênero.
Setlist do show do Kendrick Lamar em São Paulo
- WACCED OUT MURALS
- SQUABBLE UP
- N95
- KING KUNTA
- ELEMENT.
- TV OFF
- EUPHORIA
- HEY NOW
- REINCARNATED
- HUMBLE.
- BACKSEAT FREESTYLE
- FAMILY TIES
- SWIMMING POOLS (DRANK)
- M.A.A.D CITY
- ALRIGHT
- MAN AT THE GARDEN
- DODGER BLUE
- PEEKABOO
- LIKE THAT
- DNA.
- GOOD CREDIT (de Playboi Carti)
- Count Me Out / Bitch, Don’t Kill My Vibe
- LOVE.
- MONEY TREES
- POETIC JUSTICE
- LUTHER
- TV OFF
- NOT LIKE US
- GLORIA