“Leva muito tempo para ficar como o Maiden, mas algumas bandas têm talento”, reflete o baixista e líder do lendário grupo inglês
Publicado em 20/12/2024, às 11h37
Poucas bandas de metal atingiram o mesmo nível do Iron Maiden. O grupo inglês se consolidou ainda na década de 1980 como um dos maiores nomes do segmento — e manteve-se nesse posto durante a maior parte de sua carreira.
Todavia, o tópico “sucessão” é um dilema no âmbito da música pesada. Embora não seja o caso do Maiden, os artistas mais velhos estão se aposentando ou pisando no freio em relação ao ritmo de suas atividades. E não há tantos outros nomes capazes de ocupar as lacunas deixadas pelos antigos, ao menos em termos de popularidade.
Será? Ao menos Steve Harris parece enxergar a situação de uma forma diferente da maioria do público. O baixista e líder do Iron Maiden acredita que o Nightwish, banda finlandesa de metal sinfônico na ativa desde 1996, seja o nome mais capaz de atingir o patamar de seu próprio grupo.
A declaração de Harris foi relembrada pela vocalista do Nightwish, Floor Jansen, em entrevista de 2020 à revista Prog. O assunto surgiu após a cantora refletir que seu grupo pode, algum dia, se tornar atração principal dos grandes festivais de heavy metal, como o alemão Wacken Open Air e o inglês Download Festival.
Mantendo a modéstia, ela comentou inicialmente:
“Isso é uma coisa interessante, porque vai acontecer; e por curiosidade você começa a pensar sobre isso. Mas, novamente, as coisas acontecem do jeito que têm que acontecer. Não é uma ambição nesse sentido. Estamos muito satisfeitos com onde estamos.”
Em seguida, a afirmação de Harris sobre o trabalho dos colegas foi relembrada. Floor afirma:
“Mas recentemente li um artigo em que Steve Harris, do Iron Maiden, disse: ‘Se alguma banda pode carregar nossa tocha, é o Nightwish’. É uma grande honra, realmente enorme. Você pensa: ‘É, uau — nós realmente queremos isso?’. Definitivamente haverá uma mudança e nós a aceitaremos como vier. Mas é uma honra que pessoas como Steve Harris nos considerem um verdadeiro portador da tocha.”
Difícil cravar se vão conseguir, mas na Europa e até mesmo na América do Sul, o Nightwish sempre é muito bem recebido. Também participando da entrevista, o multi-instrumentista Troy Donockley relembra que, ao gravar na Argentina o DVD Decades: Live in Buenos Aires (2019), a própria banda ficou surpresa com a reação do público.
“Na introdução da música ‘Élan’, eu mal conseguia me ouvir porque todo mundo estava cantando. Era inacreditável. Houve momentos em que Floor teve que parar e esperar que as coisas acalmassem, mas isso não aconteceu! Ela teve que dizer: ‘muito obrigada, mas vocês querem ouvir a música?’. É uma loucura; eles são selvagens lá. Mas nós amamos isso. Pode ser complicado se você estiver nas ruas e for cercado. Quando vou para a América do Sul, é como ser um Beatle. Daí você volta, estou no supermercado no Reino Unido e ninguém se importa, ninguém corre atrás de mim.”
A entrevista que traz essa afirmação de Steve Harris foi concedida em 2020 ao Ultimate Guitar (via site Igor Miranda). Na ocasião, o baixista do Iron Maiden foi convidado a refletir sobre os “sucessores” de sua banda. Ele disse:
“Essa é uma pergunta difícil, porque há bandas boas por aí. Os tempos mudaram muito. Quem sabe se eles vão ter a mesma chance de ser uma banda global como o Maiden? Leva muito tempo para se tornar uma banda como o Maiden. Mas algumas bandas têm talento. Acho que o Nightwish é uma grande banda e está ficando cada vez maior. Eles, provavelmente, têm a maior chance de chegar ao mesmo patamar de sucesso do Maiden.”
Outras duas sugestões foram dadas por Harris: a alemã Lord of the Lost e a inglesa The Raven Age, que tem George Harris, filho de Steve, como guitarrista. As duas bandas abriram shows do Iron Maiden no passado.
Contrariando fãs de Nightwish que apreciam especialmente os álbuns gravados com a primeira vocalista, Tarja Turunen, Steve Harris revelou em outra entrevista, à Metal Hammer (via site Igor Miranda), ser fã da segunda cantora a assumir o posto: Anette Olzon. Com ela, a banda finlandesa gravou os discos Dark Passion Play (2007) e Imaginaerum (2011).
Sobre Dark Passion Play, ele comenta:
“Quando eu ouvi Dark Passion Play, eu não podia acreditar. Eu pensei ‘agora, isso é um álbum digno de respeito’. Tem de tudo ali. Foi controverso, por causa da nova vocalista [Anette Olzon], mas ela foi brilhante. Sem desrespeitar a Tarja, mas a voz de Anette combinou muito mais com eles. Tem coisas pesadas, clássicas, até um pouco de Disney – todo o tipo de coisa ali. Eu acho que é um dos melhores álbuns que eu já ouvi na minha vida.”
Curiosamente, Imaginaerum não despertou o mesmo sentimento imediato em Harris. Mas o baixista acabou gostando. Ele destaca:
“Fui para o próximo, Imaginaerum. ‘Storytime’ é uma canção fantástica, instantânea. O resto do álbum me levou um tempo para assimilar. Dark Passion Play era tão bom, eu pensei que não havia jeito de eles aparecerem com um álbum que fosse próximo dele de alguma forma, mas quanto mais eu entrava em Imaginaerum, mais eu o amava.”
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Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.